Biografias: Carl Kellner: Difference between revisions
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* SCRIVEN, David (i.e. Tau Apiryon). 2001: “Portraits of the Saints of the Gnostic Catholic Church”. In: CORNELIUS, J. Edward (Ed) e CORNELIUS, Marlene (Ed). Red Flame – A Thelemic Research Journal, nº 2. Berkely: Red Flame Productions, pp 117-224. | * SCRIVEN, David (i.e. Tau Apiryon). 2001: “Portraits of the Saints of the Gnostic Catholic Church”. In: CORNELIUS, J. Edward (Ed) e CORNELIUS, Marlene (Ed). Red Flame – A Thelemic Research Journal, nº 2. Berkely: Red Flame Productions, pp 117-224. | ||
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Inicialmente, valerá dizer que ainda não são muitas as fontes a propiciarem dados de boa qualidade e confiáveis a respeito de Carl Kellner. Seja observado que, atualmente, essa carência de documentação nos leva a duas perspectivas bem distintas. A primeira delas é a proliferação de um certo monturo de informações, cuja finalidade principal é construir e reforçar a imagem Kellner ora como fundador ora como “pai espiritual” da Ordo Templi Orientis. Já a segunda, bem menos comprometida com construções meramente ideológicas e proselitistas, simplesmente aponta para um campo aberto da história do ocultismo mundial, praticamente inexplorado. É com essa última perspectiva que o presente texto está alinhado. Por conseguinte, aqui pretendo apenas traçar, a partir de material selecionado com cuidado (ver Bibliografia), um brevíssimo esboço biográfico de Carl Kellner, visando apresentá-lo de um modo mais apropriado, não sob o ponto de vista mítico, mas sim histórico.
Sabe-se que ele nasceu na cidade de Viena, todavia, as fontes divergem até mesmo quanto ao seu ano de nascimento, ora apontando 1850 (Howe & Möller, 1979:30) ora 1851 (Koenig, 1992:93).
De origem modesta, desde bem cedo freqüentou vários laboratórios, os quais o habilitaram para exercer a profissão de químico. Já aos 22 anos de idade, graças ao seu conhecimento e brilhantismo, Kellner se mostrava um inventor de grande criatividade, galgando rápido sucesso. Uma série de experimentos o levaria a várias descobertas em sua área de atuação profissional, permitindo-lhe revolucionar a tecnologia de produção de papel e se tornar um expoente na indústria química de sua região de origem.(1) Kellner, costumeiramente descrito como um gênio, um homem extraordinário (Koenig, 1999:13) e bem versátil, era uma pessoa inventiva e vívida, de ótima agudeza intelectual que, em paralelo à sua profissão, também cultivava interesse em alquimia e yoga.
Nas imprecisas palavras de Theodor Reuss (1855-1923), Kellner também tinha profundo interesse em assuntos relacionados seja à maçonaria seja à magia sexual.(2) Contudo, no que diz respeito à Maçonaria, apesar de ter sido iniciado nesta Ordem, na Loja Húngara Humanitas, o austríaco permaneceria por pouco tempo nela, não passando além do grau de Aprendiz Maçom.
Especificamente em relação ao yoga, tamanho era seu interesse que, ao final do século XIX, Kellner era reconhecidamente um dos únicos europeus com detalhado conhecimento sobre teoria e prática desta disciplina. Tão proeminente era seu conhecimento sobre a matéria, que isto acabou por levá-lo a elaborar um pequeno tratado, acerca das influências psicológicas e fisiológicas que a prática do yoga exercia sobre o ser humano. Este trabalho foi apresentado no Terceiro Congresso Internacional de Psicologia, sediado em Munique, em 1896 (Howe & Möller, 1979:30). Depois, o estudo sobre yoga de Kellner também foi publicado em inglês, com o título de Yoga: A Draft on the Psychophysiological Aspect of the Ancient Yoga Doutrine. Bem posteriormente a sua morte, Crowley o relacionou como uma das “instruções oficiais da O.T.O.”, onde o estudo é apresentado como sendo de autoria de um certo Irmão Renatus (Crowley, 1997:485). Renatus havia sido o mote adotado por Kellner quando Aprendiz Maçom e a partir daí, algumas ramificações da O.T.O. passaram a adotar este nome como divisa mágica de Kellner, passando a frequentemente citá-lo como Frater Renatus Xº, O.T.O. – entretanto, como já demonstrado em outro post, não há qualquer relação direta entre a O.T.O. e Kellner (ver Origens Maçônicas da O.T.O.).
Conforme alguns acreditam (Grant, 1991:121 e Scriven, 2001:212), os interesses paralelos de Kellner também acabariam por levá-lo a empreender viagens pelo Oriente. Em uma delas, ele findaria estabelecendo contato com certos mestres da tradição oriental, adeptos que viriam a se tornar seus instrutores e gurus. Ainda segundo esta perspectiva, os adeptos orientais eram dois hindus de nomes Bhima Sen Pratap e Sri Mahatma Agamya Paramahamsa, e um árabe adepto do sufismo e da magia chamado Soliman bem Aifa, todos versados nas mais diversas doutrinas místicas do oriente. Assim, estes mestres, também adeptos tântricos orientais do Vama Marga, teriam iniciado Kellner nos mistérios da magia sexual (Grant, 1992a:72).(3) Acrescente-se que absolutamente nada se sabe a respeitos de pelo menos dois destes três supostos gurus de Kellner.
Contudo, as supostas andanças de Kellner pelas terras do Oriente não encerra o assunto sobre seu conhecimento a respeito do misticismo oriental. Ocorre que seu interesse pelo oculto também o levaria a se aproximar da teosofia, onde encontra e estabelece estreita amizade com o famoso Dr. Franz Hartmann (1838-1912), eminente teósofo, amigo e confidente da notória Madame Blavatsky (1831-1891). Foi justamente por intermédio do Dr. Hartmann, que Kellner passou a freqüentar a Sociedade Teosófica. Recentemente, o interessante artigo de Joseph Dvorak sobre Kellner vem sugerir que nesta ocasião é o Dr. Hartmann quem lhe teria apresentado – na Europa – o instrutor Sri Mahatma Agamya Paramahamsa. O mesmo artigo também nos dá conta do contato direto que Kellner teve com ninguém menos do que o erudito filologista e orientalista alemão Friedrich Max Müller (1823-1900), responsável por uma das mais completas e impressionantes obras já publicadas no Ocidente sobre as doutrinas religiosas do Oriente, o monumental The Sacred Books of the East, em 50 volumes. Ao mesmo tempo, há significativos indícios de que Kellner também estaria em contato direto com alguns membros europeus de uma obscura sociedade denominada Brotherhood of Eulis (King, 2002:97) e com seguidores do afamado e brilhante Pascal Beverly Randolph (1825-1875).
Essas últimas informações a respeito de Carl Kellner, quais sejam, sua amizade com Hartmann, seu contato com Max Muller e sua possível associação com os discípulos europeus de Randolph,(4) lançam novas luzes sobre como teria sido a sua formação, permitindo que sejam traçadas as possíveis verdadeiras fontes do conhecimento místico a ele atribuído. Em outras palavras, atualmente, a alegada viagem de Kellner pelo Oriente tende mais a ser considerada mera epopeia mítica que nem de longe corresponderia à verdade.
Continuando, o mútuo interesse profissional na área médica e química faz com que ambos, Kellner e Hartmann, colaborem de forma decisiva no desenvolvimento de uma inovadora terapia de inalação, para o tratamento de tuberculose, técnica empregada com relativo sucesso no hospital dirigido por este último.
Em 1895, já com larga experiência na prática do yoga, Kellner resolve trabalhar com um pequeno, bem seleto e extremamente reservado círculo de praticantes, dando ênfase tanto ao Hatha Yoga quanto a exercícios tântricos (Koenig, 1999:13). Não há, todavia, registros que indiquem a respeito de qualquer tipo de Ordem montada a partir deste reduzido e muito discreto grupo de praticantes de yoga.
Em novembro de 1904, Reuss publica no seu Oriflamme, em nota especificamente direcionada a quem ele chama de Pupilos do Círculo Oculto, que “nosso amado líder, Frater Carl Kellner, encontra-se severamente doente”. Em seguida, Reuss convoca todos os membros daquele Círculo Oculto a dedicarem suas preces e meditações diárias à franca recuperação de Kellner.(5)
Finalmente, em março de 1905, Kellner, que estava no Egito tentando se recuperar de uma enfermidade, volta para a Áustria. Já em Viena, ele falece no dia 7 de junho deste mesmo ano. Seu atestado de óbito oficialmente declara que a causa mortis foi “envenenamento do sangue” (Howe & Möller, 1979:36). Contudo, uma curiosa questão permanece: por que havia veneno em seu sangue? O desconhecimento sobre o que realmente aconteceu a Kellner tem levado a elucubrações curiosas como, por exemplo, dizer que forças malignas foram atraídas para “frater Renatus”, graças aos exercícios ocultos praticados por ele (cit. Howe & Möller, 1979:38).(6)
Elucubrações do além à parte, certamente a vida de Carl Kellner ainda é um campo a ser explorado. Espero que o presente artigo sirva de ponto de partida para os que apostam na plausibilidade de sua biografia.
De minha parte, isso é apenas um início.
Bibliografia
- CROWLEY, Aleister. 1997: Magick – Book 4 – Liber ABA (second revised edition). Edited by Hymenaeus Beta (i.e. William Breeze). Maine: Samuel Weiser.
- DVORAK, Joseph. Carl Kellner. Versão inglesa
- Friedrich Max Müller – Artigo biográfico
- GRANT, Kenneth. 1991: The Magical Revival. London: Skoob Books Publishing.
_____. 1992: Aleister Crowley and the Hidden God. London: Skoob Books Publishing.
- HOWE, Ellic & MÖLLER, Helmut. 1979: “Theodor Reuss – Irregular Freemasonry in Germany, 1900-23”. In: BATHAM, Cyril N. (ed). Ars Quatuor Coronatorum – Transactions of Quatuor Coronati Lodge, Vol. 91 for the Year 1978. Oxfordshire: Burgess & Sons, pp 28-46.
- KOENIG, Peter-Robert. 1992: “The OTO Phenomenon”. In: SANTUCCI, James. (ed.) Theosophical History, vol. IV, nº 3 (July, 1992) , pp. 92-98.
_____. 1994: Das OTO-Phänomen. München: AWR. _____. 1999: “Introduction”. In: NAYLOR, Anton R (Ed.). O.T.O. Rituals and Sex Magick. Thame: I-H-O Books; pp. 13-61.
- KING, Francis. 2002: Sexuality, Magic & Perversion. Los Angeles: Feral House.
- SCRIVEN, David (i.e. Tau Apiryon). 2001: “Portraits of the Saints of the Gnostic Catholic Church”. In: CORNELIUS, J. Edward (Ed) e CORNELIUS, Marlene (Ed). Red Flame – A Thelemic Research Journal, nº 2. Berkely: Red Flame Productions, pp 117-224.
Texto original do meu querido irmão Carlos Raposo, publicado originalmente no blog Orobas.