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Alexdeavila (talk | contribs) (Created page with 'Não dormes sob os ciprestes, Pois não há sono no mundo. O corpo é a sombra das vestes Que encobrem teu ser profundo. Vem a noite, que é a morte, E a sombra acabou sem ser. V…') |
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Não dormes sob os ciprestes, | Não dormes sob os ciprestes, | ||
Pois não há sono no mundo. | Pois não há sono no mundo. | ||
O corpo é a sombra das vestes | O corpo é a sombra das vestes | ||
Que encobrem teu ser profundo. | Que encobrem teu ser profundo. | ||
Vem a noite, que é a morte, | Vem a noite, que é a morte, | ||
E a sombra acabou sem ser. | E a sombra acabou sem ser. | ||
Vais na noite só recorte, | Vais na noite só recorte, | ||
Igual a ti sem querer. | Igual a ti sem querer. | ||
Mas na Estalagem do Assombro | Mas na Estalagem do Assombro | ||
Tiram-te os Anjos a capa. | Tiram-te os Anjos a capa. | ||
Segues sem capa no ombro, | Segues sem capa no ombro, | ||
Com o pouco que te tapa. | Com o pouco que te tapa. | ||
Então Arcanjos da Estrada | Então Arcanjos da Estrada | ||
Despem-te e deixam-te nu. | Despem-te e deixam-te nu. | ||
Não tens vestes, não tens nada: | Não tens vestes, não tens nada: | ||
Tens só teu corpo, que és tu. | Tens só teu corpo, que és tu. | ||
Por fim, na funda caverna, | Por fim, na funda caverna, | ||
Os Deuses despem-te mais. | Os Deuses despem-te mais. | ||
Teu corpo cessa, alma externa, | Teu corpo cessa, alma externa, | ||
Mas vês que são teus iguais. | Mas vês que são teus iguais. | ||
A sombra das tuas vestes | A sombra das tuas vestes | ||
Ficou entre nós na Sorte. | Ficou entre nós na Sorte. | ||
Não estás morto, entre ciprestes. | |||
Não estás morto, | |||
entre ciprestes. | |||
Neófito, não há morte. | Neófito, não há morte. | ||
Fernando Pessoa | Fernando Pessoa |
Latest revision as of 10:55, 30 October 2010
Não dormes sob os ciprestes,
Pois não há sono no mundo.
O corpo é a sombra das vestes
Que encobrem teu ser profundo.
Vem a noite, que é a morte,
E a sombra acabou sem ser.
Vais na noite só recorte,
Igual a ti sem querer.
Mas na Estalagem do Assombro
Tiram-te os Anjos a capa.
Segues sem capa no ombro,
Com o pouco que te tapa.
Então Arcanjos da Estrada
Despem-te e deixam-te nu.
Não tens vestes, não tens nada:
Tens só teu corpo, que és tu.
Por fim, na funda caverna,
Os Deuses despem-te mais.
Teu corpo cessa, alma externa,
Mas vês que são teus iguais.
A sombra das tuas vestes
Ficou entre nós na Sorte.
Não estás morto,
entre ciprestes.
Neófito, não há morte.
Fernando Pessoa