Isto não é o nada: Difference between revisions

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<em>Artigo original do [[Blog Textos para Reflexão]]</em>
<em>Artigo original do [[Blog Textos para Reflexão]]</em>


<em>A idéia de mal geralmente se refere a tudo aquilo que não é desejável ou que deve ser evitado. O mal está no vício, em oposição à virtude [1].</em>
Em 1996 cientistas da NASA declararam que um meteorito vindo de Marte parecia trazer consigo sinais de vida. A pedra extraterrestre, chamada ALH84001, desprendeu-se de Marte após a colisão violenta de algum cometa ou asteróide a cerca de 16 bilhões de anos, e caiu na Terra por volta de 13 mil anos atrás, sendo finalmente descoberta na Antártica em 1984.


==O bode expiatório==
Houve forte repercussão na mídia, e até o então presidente americano, Bill Clinton, referiu-se a possibilidade da descoberta de vida extraterrestre: “Hoje a pedra 84001 nos fala de um passo de bilhões de anos e de uma distância de milhões de quilômetros. Nos fala da possibilidade de vida. Se essa descoberta for confirmada, será uma das maiores na história da ciência. Suas implicações serão profundas, e inspirarão ainda mais reverência pelo universo em que vivemos. Ao prometer respostas para algumas das questões mais antigas da humanidade, levanta outras ainda mais fundamentais.”


Diz à lenda que o jovem Einstein corrigiu seu professor  quando este, em plena sala de aula, afirmou que “se Deus criou todas as coisas, então Deus também é mau, visto que criou o mal”:
Hoje, no entanto, a maioria dos cientistas está convencida de que os sinais de vida no meteorito 84001 não são reais. Um dos métodos para se identificar atividades biológicas em amostras de meteoritos é buscar por minúsculas “marcas de vida” gravadas nas rochas. A dificuldade é que processos geológicos muitas vezes causam efeitos extremamente parecidos com atividade bacteriana. Embora não tenhamos o caso por encerrado, essa pedra não é a prova que tanto buscamos. Ao que sabemos por evidências físicas, continuamos sendo o único planeta com vida no Cosmos.


“Me desculpe professor, o frio existe?– Na afirmativa do professor, ele prosseguiu – “Na verdade, professor, o frio não existe. De acordo com as leis da física, o que nós consideramos como frio é na realidade a ausência do calor.”
Obviamente a falta dessa evidência não impede que muitos cientistas continuem esperançosos em encontrá-la em breve, afinal o universo é um lugar bem grande. Em seu livro “The Fifth Miracle [O Quinto Milagre]” o físico Paul Davies diz que “se a vida vem de uma sopa pré-biótica com certeza causal, então as leis da Natureza escondem um subtexto, um imperativo cósmico que comanda: ‘Faça-se a vida!’... Essa visão deslumbrante da Natureza é profundamente inspiradora e majestosa. Espero que esteja correta. Seria maravilhoso se estivesse.”


“E a escuridão professor, ela existe?” – Ainda confuso, ele novamente disse que obviamente existia – “Você está errado senhor, a escuridão tampouco existe, a escuridão é na realidade a ausência de luz. A luz nós podemos estudar, mas não podemos estudar algo que inexiste: a escuridão.” – Finalmente, o jovem concluiu: “O mal não existe, ele é como o frio e a escuridão. Deus não criou o mal, o que chamamos de mal é o resultado de quando os homens não possuem o amor de Deus em seu coração...”
James Gardner é um jornalista especializado em pesquisa científica que traduz esse sentimento em uma teoria consideravelmente bem fundamentada, a do Biocosmos Egoísta, a qual é elaborada no livro homônimo, e defendida com maior embasamento no livro “O universo inteligente” (Ed. Cultrix). Vejamos como ele a resume: “A essência da hipótese do Biocosmos Egoísta é que o universo que habitamos está no processo de ficar impregnado de vida cada vez mais inteligente – mas não necessariamente vida humana ou sua sucessora. Nessa teoria, a emergência da vida e da inteligência cada vez mais competente não é um acidente sem significado num cosmos hostil, em grande parte isento de vida, mas está no próprio âmago da vasta maquinaria da criação, da evolução cosmológica e da replicação cósmica.”


Independente de ter sido uma história real ou alguma invenção religiosa para atacar a idéia de que Deus criou o mal, o que nos importa é que a lógica é verdadeira: certamente, o mal não existe, não é uma força. Pela lógica, a questão da existência de Deus se fundamenta na questão da criação em si – algo existe, algo que é essencialmente infinito... O amor sim, nos dá evidências subjetivas de ser uma força inesgotável, uma fonte de onde quanto mais se tira água, mais água se tem. O mal seria tão somente a ausência ou ignorância deste amor.
Há ainda outros cientistas que primeiro buscam por evidências antes de considerar tais hipóteses. Em “O universo vivo” (Ed. Larousse) o físico Chris Impey nos traz uma detalhada análise da astrobiologia – o estudo da vida no espaço. Ao contrário do que muitos possam pensar, este é um ramo oficial da ciência, e demonstra que muitos consideram com seriedade a possibilidade de acharmos além da Terra formas de vida simples como bactérias e extremófilos, capazes de sobreviver em condições geoquímicas extremas, como no subterrâneo de Marte ou no oceano gelado de Europa, uma das luas de Júpiter... Isso não significa que esperam encontrar tão cedo qualquer ser mais complexo do que uma ameba, tanto menos alguma espécie capaz de comunicar-se conosco.


Porém, se o mal não existe, quem diabos seria Satanás? Ele é uma figura muito controvertida na Bíblia. A palavra "Satã" significa em hebraico "acusador", "opositor". Aparece, pela primeira vez no livro de , sendo como um promotor celestial. A sua intimidade com Deus e o direito de entrar no "Céu", de ir e vir livremente e dialogar com Ele, torna-o uma figura de muito destaque. Veja o livro de Jó 1:6 – "Um dia em que os filhos de Deus se apresentaram diante do Senhor, veio também Satanás entre eles". O livro de Jó foi escrito depois do exílio babilônico. Sabemos que o povo judeu, tendo retornado a Israel com a permissão de Ciro, rei persa, no ano 538 a.C, assimilou muitos costumes dos persas e do zoroastrismo.
Recentemente cientistas descobriram um planeta que possui o tamanho correto, a densidade correta e a distância correta de sua estrela para abrigar vida tal qual a conhecemos. Gliese 581 é uma estrela anã vermelha localizada a 20,3 anos-luz da Terra, na constelação de Libra. O Planeta G, sexto de seu sistema, orbita no meio do que se chama de “região habitável” na qual a água pode existir em forma líquida, e possui cerca de 1,5 vezes o tamanho da Terra, o que garante uma atração gravitacional para fazer com que esta água possa se acumular em lagos e mares.


O zoroastrismo foi uma das mais antigas religiões a ensinar o triunfo final do bem sobre o mal. No fim, haverá punição para os maus, e recompensa para os bons. E foi do zoroastrismo que os judeus aprenderam a crença em um Ahriman, um diabo pessoal, que, em hebraico, eles chamaram de Satan - Por isso, o seu aparecimento na Bíblia só ocorre no livro de e nos outros livros escritos após o exílio babilônico. Nestes livros já aparece à influência do zoroastrismo persa. Observe ainda que a tentação de Adão e Eva é realizada pela serpente e não por Satanás, demonstrando assim que o escritor do Gênesis não conhecia Satanás.
“Pessoalmente, dada a propensão da vida como a conhecemos de brotar em qualquer oportunidade, eu diria que as chances de existir vida neste planeta beiram 100%” disse Steven Voght, professor de astronomia e astrofísica na Universidade da Califórnia ao Discovery News.


Passa a existir a partir daí, "uma lenda" entre o povo judeu de que Satanás é considerado como o rei dos demônios, que se rebelara contra Deus sendo expulso do céu. Ao exilar-se do céu, levou consigo uma hoste de anjos caídos, e tornou-se seu líder. A rebelião começou quando ele, Satanás, o maior dos anjos, recusou prestar homenagem a Adão. Afirmam ainda que esteve por trás do pecado de Adão e Eva, no Jardim do Éden, mantendo relação sexual com Eva. Ajudou Noé a embriagar-se com vinho e tentou persuadir Abraão a não obedecer a Deus no episódio do sacrifício do seu filho Isaac [2].
Em seu livro “Criação imperfeita” (Ed. Record), o físico brasileiro Marcelo Gleiser critica veementemente essa propensão “monoteísta e unificadora” presente em muitos cientistas, uma espécie de busca por códigos ocultos na Natureza, por uma mítica Teoria do Tudo; E, claro, ele discorda dessa noção de que a vida “tem a propensão de brotar em qualquer oportunidade”. Enfim, Gleiser confessa que já foi ele mesmo um “unificador” em busca desses mistérios ocultos do Cosmos, mas que terminou por aceitar que a vida é tão somente um evento raríssimo num universo violento e hostil, fruto de uma cadeia de assimetrias que data desde o Big Bang, quando a pequena assimetria entre a presença de matéria e anti-matéria possibilitou o surgimento de galáxias, estrelas, planetas e, eventualmente, da vida no planeta Terra – teoricamente um evento tão raro que temos pouca esperança de encontrar vida inteligente em nosso horizonte cósmico, quanto menos especular que o universo é uma espécie de Biocosmos Egoísta.


Muitas pessoas acreditam muito no poder de Satanás e até o enaltecem em suas igrejas, interessante como as igrejas que tanto combateram o paganismo tenham como um de seus personagens principais um mito essencialmente pagão. Seu reino, o Inferno, sofreu influência do Tártaro da mitologia grega, morada de Hades, local para onde iam as almas dos mortos; seus chifres eram de Pã, uma entidade grega protetora da natureza; e ainda encontramos coincidências com as crenças dos antigos Egípcios, quando se acreditava que o Deus Anúbis (o Chacal) carregaria a alma dos mortos cujo coração ao ser pesado numa balança, seria mais pesado que uma pluma. Porém, acima de tudo, o próprio conceito de uma entidade que personifica o mal e disputa almas com o próprio Deus é, na melhor das hipóteses, um hino ao paganismo.
Gleiser defende que a vida é especial exatamente por aparentemente só existir aqui – que é rara, muito rara, e que por isso mesmo tem de ser valorizada e protegida. A espiritualidade de Gleiser se foca num “humanocentrismo cósmico”, mas que até onde sabemos não passa da atmosfera terrestre. Para a teoria de Gleiser fazer sentido, basta que continuemos a não encontrar vida extraterrestre nos séculos vindouros, o que será uma prova cada vez maior de que o universo não parece ser uma “fonte inesgotável de vida”.


Se Deus não pode ter criado o mal, se o mal não existe – sendo tão somente a ignorância do bem –, como explicar a ilusão persistente deste mito por tantos e tantos séculos? Ora, talvez a explicação esteja no fato de Satanás, o Diabo, ser o bode expiatório perfeito...
Interessante e irônico comparar o pensamento de Gleiser com o do jornalista científico Fred Heeren. Em seu livro “Mostre-me Deus” (Ed. Clio), ele nos traz uma análise abrangente do estado da cosmologia atual, mas aqui e ali ele insiste em inserir analogias bíblicas, muitas delas forçadas, mas que não deixam de compor uma teoria interessante. Não vou entrar em detalhes, mas o mais interessante para nossa comparação é que Heeren diz que é exatamente porque até hoje não encontramos vida inteligente fora da Terra que a bíblia parece fazer todo o sentido! Ou seja, Deus parece ter escolhido exatamente este planeta, e somente ele, dentre trilhões e trilhões de outros, para criar a vida.


Como certas pessoas se aprazem com a ilusão de sua existência! Existindo um centralizador de todo o mal, justificam-se nossas próprias falhas: “Não fui eu quem me viciei em bebidas e drogas, foi à influência do Capeta que me levou ao vício!”; “Não fui eu quem bati na minha mulher, foi Belzebu quem me seduziu e guiou a minha mão!”; “Não entendo como pude deixar minha honestidade de lado e roubar dinheiro público. Sou um grande político... Acreditem por favor, isso tudo foi obra de Lúcifer!”
É muito comum em livros de divulgação científica vermos teorias sendo expostas a torto e a direito sem uma preocupação maior com sua lógica – pois isso seria filosofia e não ciência. A ciência depende afinal apenas de comprovação experimental, e enquanto esta não aparece, uma miríade sem fim de teorias são elaboradas... Gleiser, por exemplo, também critica com fervor o atual estágio da física teórica, em que se baseia quase que totalmente em teorias que não têm como ser testadas e, portanto, nem validades nem invalidadas. Temos nesse cenário, como maior expoente, a Teoria-M ou Teoria das Cordas, que postula que os componentes fundamentais da matéria são minúsculas cordas, e que é de sua vibração que são criadas partículas de maior ou menor massa. A Teoria-M é uma das tantas outras que buscam uma unificação das teorias físicas, uma mítica Teoria do Tudo tão criticada por Gleiser – na medida em que para ele, ela obviamente ainda está bem além de nosso alcance.


E o bode expiatório também serve para justificar ataques ilógicos a crenças alheias, e a ciência: “Não mexo com espiritismo, isso é coisa do demônio!”; “Esse negócio de evolução foi coisa que o Cramulhão soprou nos ouvidos de Darwin, afastando-o da fé cristã!”; “Esta é sua última chance de aceitar Nosso Senhor Jesus Cristo, pois Lúcifer está sempre a espreita, esperando pelas almas desgarradas no Dia do Juízo!”
<em>Na parte final, minha opinião sobre o assunto...</em>  
 
Mas o verdadeiro medo de toda essa gente é admitir que são as únicas culpadas pelo seu próprio mal. Olhe para dentro, admita que o Diabo só está em você mesmo, é único e exclusivamente seu. O seu Satanás não é igual ao Satanás de mais ninguém. Conversa com ele, faça as pazes, sublime-se de seu lado animal... e seu amor também não será igual ao de mais ninguém. Cada ser é único e reúne em si todas as possibilidades do caminho que se opõe a ignorância, sempre.
 
Está escrito na sua consciência e em cada linha de sua mão, não fui eu quem falei... Se Deus não criou seres perfeitos, nem entre homens nem entre anjos, foi porque não desejou que sua criação fosse palco de um espetáculo esquematizado por autômatos, por seres que não conquistaram bem algum, visto que já foram programados assim.
 
Nós, porém, fomos criados ignorantes. Longe de ser uma maldade, esta é a suprema benção do criador: deixar que cada ser conquiste o próprio bem, o próprio conhecimento e sabedoria, o próprio amor. Nunca ninguém conseguiu acender a luz rápido o bastante para ver a escuridão, mas se um dia alguém visse, perceberia que o Inferno nada mais é do que um beco sem saída, uma terra de estagnação.
 
Ninguém evolui no mal; não há uma guerra entre o bem e o mal, e nenhuma guerra algum dia foi santa. Não existe essa tal dualidade entre o bem e o mal, há apenas a ignorância, e o autoconhecimento.
 
<em>A seguir: os “mestres da escuridão”, esses mimados...</em>
 
***
 
[1] Não digo que esta definição de mal inexista, o mal que ataco no artigo é essencialmente a idéia de um mal sobrenatural, e sua personificação em um ser que rivaliza com Deus. Em suma, o mal existente é o nosso próprio mal.
 
[2] Os três últimos parágrafos foram totalmente baseados no excelente artigo de Lúcio Fellini Tazinaffo entitulado "Satanás". Infelizmente não posso citar o link.


==Post Completo==
==Post Completo==
* [[Reflexões sobre o mal]]
* [[Isto não é o nada]]
* [[Reflexões sobre o mal – Parte II]]
* [[Isto não é o nada – Parte II]]
* [[Reflexões sobre o mal – Parte III]]


==Links Externos==
==Links Externos==
* [http://textosparareflexao.blogspot.com/2010/04/reflexoes-sobre-o-mal-parte-1.html] - Post original no Blog Textos para Reflexão
* [http://textosparareflexao.blogspot.com/2010/11/isto-nao-e-o-nada-parte-1.html] - Post original no Blog Textos para Reflexão


[[category:Blogs]]
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Latest revision as of 11:36, 10 December 2010

Artigo original do Blog Textos para Reflexão

Em 1996 cientistas da NASA declararam que um meteorito vindo de Marte parecia trazer consigo sinais de vida. A pedra extraterrestre, chamada ALH84001, desprendeu-se de Marte após a colisão violenta de algum cometa ou asteróide a cerca de 16 bilhões de anos, e caiu na Terra por volta de 13 mil anos atrás, sendo finalmente descoberta na Antártica em 1984.

Houve forte repercussão na mídia, e até o então presidente americano, Bill Clinton, referiu-se a possibilidade da descoberta de vida extraterrestre: “Hoje a pedra 84001 nos fala de um passo de bilhões de anos e de uma distância de milhões de quilômetros. Nos fala da possibilidade de vida. Se essa descoberta for confirmada, será uma das maiores na história da ciência. Suas implicações serão profundas, e inspirarão ainda mais reverência pelo universo em que vivemos. Ao prometer respostas para algumas das questões mais antigas da humanidade, levanta outras ainda mais fundamentais.”

Hoje, no entanto, a maioria dos cientistas está convencida de que os sinais de vida no meteorito 84001 não são reais. Um dos métodos para se identificar atividades biológicas em amostras de meteoritos é buscar por minúsculas “marcas de vida” gravadas nas rochas. A dificuldade é que processos geológicos muitas vezes causam efeitos extremamente parecidos com atividade bacteriana. Embora não tenhamos o caso por encerrado, essa pedra não é a prova que tanto buscamos. Ao que sabemos por evidências físicas, continuamos sendo o único planeta com vida no Cosmos.

Obviamente a falta dessa evidência não impede que muitos cientistas continuem esperançosos em encontrá-la em breve, afinal o universo é um lugar bem grande. Em seu livro “The Fifth Miracle [O Quinto Milagre]” o físico Paul Davies diz que “se a vida vem de uma sopa pré-biótica com certeza causal, então as leis da Natureza escondem um subtexto, um imperativo cósmico que comanda: ‘Faça-se a vida!’... Essa visão deslumbrante da Natureza é profundamente inspiradora e majestosa. Espero que esteja correta. Seria maravilhoso se estivesse.”

James Gardner é um jornalista especializado em pesquisa científica que traduz esse sentimento em uma teoria consideravelmente bem fundamentada, a do Biocosmos Egoísta, a qual é elaborada no livro homônimo, e defendida com maior embasamento no livro “O universo inteligente” (Ed. Cultrix). Vejamos como ele a resume: “A essência da hipótese do Biocosmos Egoísta é que o universo que habitamos está no processo de ficar impregnado de vida cada vez mais inteligente – mas não necessariamente vida humana ou sua sucessora. Nessa teoria, a emergência da vida e da inteligência cada vez mais competente não é um acidente sem significado num cosmos hostil, em grande parte isento de vida, mas está no próprio âmago da vasta maquinaria da criação, da evolução cosmológica e da replicação cósmica.”

Há ainda outros cientistas que primeiro buscam por evidências antes de considerar tais hipóteses. Em “O universo vivo” (Ed. Larousse) o físico Chris Impey nos traz uma detalhada análise da astrobiologia – o estudo da vida no espaço. Ao contrário do que muitos possam pensar, este é um ramo oficial da ciência, e demonstra que muitos consideram com seriedade a possibilidade de acharmos além da Terra formas de vida simples como bactérias e extremófilos, capazes de sobreviver em condições geoquímicas extremas, como no subterrâneo de Marte ou no oceano gelado de Europa, uma das luas de Júpiter... Isso não significa que esperam encontrar tão cedo qualquer ser mais complexo do que uma ameba, tanto menos alguma espécie capaz de comunicar-se conosco.

Recentemente cientistas descobriram um planeta que possui o tamanho correto, a densidade correta e a distância correta de sua estrela para abrigar vida tal qual a conhecemos. Gliese 581 é uma estrela anã vermelha localizada a 20,3 anos-luz da Terra, na constelação de Libra. O Planeta G, sexto de seu sistema, orbita no meio do que se chama de “região habitável” na qual a água pode existir em forma líquida, e possui cerca de 1,5 vezes o tamanho da Terra, o que garante uma atração gravitacional para fazer com que esta água possa se acumular em lagos e mares.

“Pessoalmente, dada a propensão da vida como a conhecemos de brotar em qualquer oportunidade, eu diria que as chances de existir vida neste planeta beiram 100%” disse Steven Voght, professor de astronomia e astrofísica na Universidade da Califórnia ao Discovery News.

Em seu livro “Criação imperfeita” (Ed. Record), o físico brasileiro Marcelo Gleiser critica veementemente essa propensão “monoteísta e unificadora” presente em muitos cientistas, uma espécie de busca por códigos ocultos na Natureza, por uma mítica Teoria do Tudo; E, claro, ele discorda dessa noção de que a vida “tem a propensão de brotar em qualquer oportunidade”. Enfim, Gleiser confessa que já foi ele mesmo um “unificador” em busca desses mistérios ocultos do Cosmos, mas que terminou por aceitar que a vida é tão somente um evento raríssimo num universo violento e hostil, fruto de uma cadeia de assimetrias que data desde o Big Bang, quando a pequena assimetria entre a presença de matéria e anti-matéria possibilitou o surgimento de galáxias, estrelas, planetas e, eventualmente, da vida no planeta Terra – teoricamente um evento tão raro que temos pouca esperança de encontrar vida inteligente em nosso horizonte cósmico, quanto menos especular que o universo é uma espécie de Biocosmos Egoísta.

Gleiser defende que a vida é especial exatamente por aparentemente só existir aqui – que é rara, muito rara, e que por isso mesmo tem de ser valorizada e protegida. A espiritualidade de Gleiser se foca num “humanocentrismo cósmico”, mas que até onde sabemos não passa da atmosfera terrestre. Para a teoria de Gleiser fazer sentido, basta que continuemos a não encontrar vida extraterrestre nos séculos vindouros, o que será uma prova cada vez maior de que o universo não parece ser uma “fonte inesgotável de vida”.

Interessante e irônico comparar o pensamento de Gleiser com o do jornalista científico Fred Heeren. Em seu livro “Mostre-me Deus” (Ed. Clio), ele nos traz uma análise abrangente do estado da cosmologia atual, mas aqui e ali ele insiste em inserir analogias bíblicas, muitas delas forçadas, mas que não deixam de compor uma teoria interessante. Não vou entrar em detalhes, mas o mais interessante para nossa comparação é que Heeren diz que é exatamente porque até hoje não encontramos vida inteligente fora da Terra que a bíblia parece fazer todo o sentido! Ou seja, Deus parece ter escolhido exatamente este planeta, e somente ele, dentre trilhões e trilhões de outros, para criar a vida.

É muito comum em livros de divulgação científica vermos teorias sendo expostas a torto e a direito sem uma preocupação maior com sua lógica – pois isso seria filosofia e não ciência. A ciência depende afinal apenas de comprovação experimental, e enquanto esta não aparece, uma miríade sem fim de teorias são elaboradas... Gleiser, por exemplo, também critica com fervor o atual estágio da física teórica, em que se baseia quase que totalmente em teorias que não têm como ser testadas e, portanto, nem validades nem invalidadas. Temos nesse cenário, como maior expoente, a Teoria-M ou Teoria das Cordas, que postula que os componentes fundamentais da matéria são minúsculas cordas, e que é de sua vibração que são criadas partículas de maior ou menor massa. A Teoria-M é uma das tantas outras que buscam uma unificação das teorias físicas, uma mítica Teoria do Tudo tão criticada por Gleiser – na medida em que para ele, ela obviamente ainda está bem além de nosso alcance.

Na parte final, minha opinião sobre o assunto...

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