A Lua (Tarot)

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Tarot de Rider-Waite
Posição na Árvore da Vida

A Lua é o 18º Arcano Maior do Tarot, relacionada à letra hebraica Qof.

Simbologia

A Lua parece atrair (ao contrário do Sol) dezenove manchas de cor, em forma de lágrimas. Essa direção das gotas variam com as diferentes desenhos, mesmo entre as versões clássicas.

Embaixo da Lua há dois cães e, mais atrás, duas torres. Alguns autores reconhecem um dos animais como cão e, o outro, como lobo.

Em primeiro plano, um lagostim (a maioria das descrições fala em “caranguejo”) encontra-se num tanque que, com suas bordas retas, parece construído; os dois cães têm a língua para fora, dando a entender que querem lamber as gotas. Do chão brotam várias plantas (ou apenas três, em algumas versões).

As duas torres parecem delimitar e proteger o espaço no qual se encontram os animais e o tanque.

A Lua está ao mesmo tempo cheia e crescente; dentro desta última figuração vê-se o perfil humano; os raios são de dois tamanhos. As dezenove lágrimas estão dispostas em forma de colar, numa fileira dupla e com a ponta para baixo.

Palavras-chave

A inteligência instintiva, os ciclos vitais. Os elementos da natureza, o mundo visível, a luz refletida, as formas materiais, o simbolismo. Imaginação. Reflexão e reflexos. Aparências. Ilusões. O momento de reavaliar a direção, de buscar inspiração no retorno à fonte. A objetividade, o mundo sensível, instintivo, vital. Experimentação, trabalho, penosa conquista da verdade. Instrução pela dor; trabalho cansativo, mas necessário. Vidência passiva, receptividade, sensibilidade, lucidez. Navegação, mudança. Inconstância, insegurança, medo. Irracionalidade, fantasias, penumbra.

  • Mental: Em caso de negociações: mentira; em caso de trabalho pessoal: erro. Olhar superficial em todos os níveis.
  • Emocional: Sentimentos conturbados ou em desordem, passionais, aparentemente sem saída. Ciúmes. Hipocondria. Idéias quiméricas.
  • Físico: Obscurecimento. Agitação. Escândalo, difamação, denúncia, segredo que fica público. Se a pergunta se refere à saúde, pode significar desordens no sistema nervoso, o que pode tornar recomendával uma mudança de ambiente, para buscar lugares secos e com calor.
  • Sentido negativo: O instinto – causa de miragens – acentua seus efeitos pela situação ascendente do pântano. Estado de consciência confuso que permanece latente e sem se manifestar. Erros dos sentidos, falsas suposições. Embustes, enganos, decepção, desilusão. Teorias equivocadas, falso saber, vidência histérica. Ameaça, chantagem. Viagem inoportuna, caprichos. Caráter perturbado, neurótico.

História e iconografia

Em vários desenhos do Tarô anteriores ao de Marselha – como é o caso do denominado Gringonneur, de aproximadamente 1455 – o arcano XVIII representa dois astrólogos, elaborando cálculos sob uma lua minguante. Os diversos elementos do baralho de Marselha – os cães, o caranguejo, o tanque, as torres – não aparecem neles. A própria Lua só é apresentada num plano, ao contrário do desenho concêntrico (perfil humano, crescente, disco), tal como aparece no Tarô de Marselha.

Já nos desenhos mais conhecidos, as duas torres podem ser consideradas como pórticos monumentais, que defendem ou protegem o espaço interno, no qual se encontram os animais.

É imporante lembrar que a Lua (Diana-Hécate, na mitologia grega) é ao mesmo tempo Janua Coeli e Janua Inferni: a porta do Céu e a porta do Inferno, o que as coloca em estreita relação com os dois cães (ou lobos) a uivar. Constituem indicadores da idéia de dualidade, bipolaridade.

Já o jesuíta Athanase Kircher localizava Anúbis e Hermanúbis (divindades curiosamente representadas com cabeça de chacal) ante as duas portas do Céu: Anúbis no solstício de inverno, frente à porta da ascensão, indicada pelo signo de Capricórnio no hemisfério norte; Hermanúbis no solstício de verão, frente à porta da descida, ou do homem, indicada pelo signo de Câncer.

Clemente de Alexandria, por outro lado, descreveu as procissões egípcias, que incluíam o passeio dos dois cães-deuses: “segundo eles, guardiães das portas no Sol, no norte e no sul”, o que poderia ter relação com os solstícios do inverno e da primavera.

Embora não haja exemplos de zoolatria entre os gregos, é verdade que consagraram diversos animais para a companhia dos deuses. No caso de Artemisa – afirma Plutarco, em Isis e Osíris – seu cortejo era formado por dois cães; é significativo lembrar que a caçadora celeste era, para seu povo, uma divindade lunar.

Quanto ao caranguejo, sua relação com a Lua é antiga e constante, aparecendo em ritos e lendas protagonizadas pelo astro noturno em numerosas culturas. Isto pode ser atribuído à marcha retroativa do animal, comparada ao movimento da Lua pela observação popular.

Do ponto de vista astronômico, o caranguejo se relaciona com o simbolismo geral da carta e das torres em particular: Câncer é, como se sabe, signo do Trópico e, ainda, do solstício de verão, no hemisfério norte.

As manchas de cor em forma de lágrimas que chovem da Lua (ou se dirigem para ela) estão desenhadas com a ponta para baixo; no arcano seguinte (O Sol) aparecem com a ponta para cima.

Ouspensky viu nas imagens do Arcano XVIII uma alegoria da viagem heróica, um resumo claro do simbolismo relacionado ao trânsito e a passagem: o tanque de água (matéria primordial), o caranguejo que emerge (devorador do transitório, como o escaravelho entre os egípcios), os cães que interceptam a passagem (guardiães, qualificadores da aptidão do viajante para enfrentar o mistério), as torres no horizonte (cheias de ciladas e também de portas – meta, fronteira).

Cirlot imagina que os cães impedem a passagem da Lua para o domínio do logos (conhecimento solar) e comenta a descrição de Wirth sobre o que não se vê na gravura: “Atrás dessas torres há uma estepe e atrás um bosque (a floresta das lendas e contos folclóricos), cheio de fantasmas. Depois há uma montanha e um precipício que termina num curso de água purificadora. Essa rota parece corresponder à descrita pelos xamãs em suas viagens extáticas."

O que se mostra evidente é que o Arcano XVIII está mais relacionado que qualquer outro com o plano iniciático da via úmida (lunar). É por essa razão que Oswald Wirth o relaciona à intuição e ao imaginativo, ainda que entre suas interpretações mais recorrentes em relação à Lua figure a sensualidade.

A aproximação do Arcano XVIII com o vasto simbolismo lunar seria interminável, desde a sua relação com o ciclo fisiológico feminino até o panteão das divindades noturnas, passando por suas implicações cósmicas, mágicas e astrológicas.

Parece mais prudente considerar que a Lua não se refere a tudo que nomeia, mas sim à situação específica que compõe com os outros elementos da carta. É bom cuidar para não limitar este arcano ao repertório específico da Astrologia.

Variações

  • Nenhuma.

Links Externos

  • [1] - Texto de Constantino K. Riemma.

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