Arcano 14 - Temperança - Samekh

From Wiki
Revision as of 15:25, 8 November 2010 by Hillkitty (talk | contribs)
Jump to navigationJump to search

deldebbio | 16 de fevereiro de 2009

File:09-02-16-14.jpg


Um anjo com rosto feminino derrama o conteúdo de um vaso em outro. O personagem é visto de frente, com o rosto ligeiramente inclinado para a esquerda e para baixo, e o tronco voltado na mesma posição. Sua vestimenta tem várias cores: azul, de cada lado do corpete, e na metade esquerda da saia; vermelho, nas mangas e na outra parte da saia. As asas são azuis (ou cor de pele, na edição Grimaud). Os pés permanecem ocultos pelas pregas da saia. A flor no topo da cabeça, o botão amarelo no meio do peito (ou um panejamento dourado, em outras versões), salientam chacras ativos do personagem. Três linhas onduladas unem os vasos que o anjo segura; o líquido derramado pode representar as energias em transmutação. Na edição Camoin, a barra do vestido, em amarelo, representaria serpentes entrelaçadas, sob controle do anjo, aos seus pés. Ou seja, representa seu vínculo com a circulação das energias em diferentes níveis de manifestação.

Significados simbólicos

A alquimia, a transmutação dos elementos. Renovação da vida, influência celeste, circulação, adaptação. Serenidade. Harmonia. Equilíbrio.

Interpretações usuais na cartomancia

Tolerância, paciência, praticidade, felicidade. Aceitação dos acontecimentos, flexibilidade para adaptar-se às circunstâncias. Educação, trato social. Caráter elástico para enfrentar as transformações. Temperamento descuidado.

  • Mental: Espírito de conciliação, ausência de paixões no julgamento; dá o sentido profundo das coisas, como representante de um princípio eterno de moderação. Exclui a rigidez, o emperramento. Corresponde à flexibilidade e ao plástico.
  • Emocional: Os seres se reconhecem e se encontram por suas afinidades. Sob a influência desta carta são felizes, mas não evoluem e não conseguirão se livrar um do outro.
  • Físico: Conciliação nos negócios, atividades e empreendimentos. Pesam-se os prós e contras, encontra-se a maneira de estabelecer um compromisso, mas se ignora se o empreendimento será ou não coroado de êxito. Reflexão, decisão que não pode ser tomada de imediato.

Do ponto de vista da saúde: enfermidade difícil de curar, porque se alimenta de si mesma.

  • Sentido negativo: Desordens, discordâncias. Indiferença. Falta de personalidade, passividade. Inconstância, humor irregular, desequilíbrio. Tendência a se deixar levar pela corrente, submissão à moda e aos preconceitos. Resultados não conformes às aspirações. Derramamento, saída, fluxo involuntário. As coisas seguem o seu curso.

História e iconografia

A mulher que derrama líquido é uma alegoria muito comum durante a Idade Média para representar a virtude da temperança: supunha-se que misturava água no vinho para diminuir os seus efeitos. Curiosamente, a mesma imagem serviu durante os primeiros séculos do cristianismo para ilustrar o contrário: o milagre das bodas de Canaã, onde a mulher – por ordem de Jesus – vira a água que vai se transformar em vinho. Com outros significados pode ser encontrada nos versos de Horácio: “O cântaro reterá por longo tempo o perfume que o encheu pela primeira vez”. Mistura de anjo e mulher, A Temperança evocou sempre, para os investigadores do Tarô, o mito do hermafrodita. Tema recorrente e vastíssimo, por um de seus aspectos – que é o que aqui interessa – a androginia tem sido considerada desde tempos antigos como premonição feliz. Isto faz da Temperança uma carta amável, do ponto de vista adivinhatório, cuja presença alivia sempre a densidade do oráculo. Arcano de reunião, e portanto de equilíbrio – a coniunctio oppositorum, em sua fase anterior à bissexualidade – onde o derramamento do líquido já foi interpretado como uma metáfora das transformações: a passagem do espiritual ao físico, do sentimento à razão. Astrologicamente, não deixa dúvidas sobre sua filiação aquariana, que guarda correspondência com o simbolismo de Indra, divindade hindu da purificação. Wirth relaciona a androginia da Temperança ao elemento relacionado ao quinto ternário do Tarô, que provém da morte assexuada (XIII) e culmina no Diabo bissexual (XV). É preciso assinalar também sua localização como último termo do segundo setenário, que corresponde à Alma ou psique, plano da personalidade fluente, flexível e instável na natureza, relacionada às águas em quase todas as teofanias, assim como o Espírito é associado à luz (fogo, ar) e o Corpo à terra. O tema do derramamento e dos vasos gêmeos e opostos dominam, por outro lado, as especulações sobre os prodígios terapêuticos. Neste aspecto, o Arcano XIIII é claramente o curador, o agente reparador e reconstituinte, aquele que verte a harmonia universal sobre o desequilíbrio individual. Como o Eremita, lembra os médicos, curandeiros e charlatães; mais ainda, lembra conselheiros, confessores e terapeutas.

Resta estabelecer uma leitura da Temperança no contexto do interminável simbolismo aquático, pois refere-se à matéria unívoca (o oceano primordial), à corrente circulatória que mantém a vida (chuva, seiva, leite, sangue, sêmen), à mãe (as águas como elemento pré-natal) e às imersões como rito de morte e ressurreição (batismo).

Por Constantino K. Riemma http://www.clubedotaro.com.br/