Daath e a Travessia do Abismo
Em Malkuth começa o trabalho do despertar da centelha e elevação da mesma atraves dos Sephiroth. Malkuth pode ser comparada ao mito de Persefone (ou Proserpina entre os romanos), onde a historia do mito narra a violação de Persefone por Hades obrigando-a a seu exílio sob a Terra, assim como também o mito dos gnósticos sobre a queda de Sophia. Segundo Israel Regardie existem dois métodos básicos de consecução espiritual baseados no uso direto da Árvore da Vida: Um é a meditação e o outro é o Ritual. O objetivo de seguir esses dois processos, é atingir o Coração da Arvore, o centro cristico nele mesmo – Tipheret, onde terá a visao e conversação do Sagrado Anjo Guardião. Os dois métodos acima referidos na verdade são um. Assim trabalhando ele transcende o que ele pensa ser, ascendendo pelos sephiroth.
Esta subida realiza-se pela coluna do meio ou pilar do meio, isto é, a coluna central da arvore formada por Malkuth, Yesod, Tiphareth, Daath, Kether.
No sistema oriental isto equivale ao canal Shushuma, por onde eleva-se Kundalini. O Sushuma é o mais importante dos Nadis e consiste no eixo ou canal central que se situa ao longo da coluna, por onde circula energia neutra. Ele é conhecido como o sustentador do universo e o “caminho da salvação”.
Na tradição Greco-Romana, o caduceu de Thot é o simbolo do segredo, tanto quanto a Serpente de Bronze erguida por Moisés no Egito.
Segundo Israel Regardie, esse metodo de elevacao da Kundalini, ou de conscientizacao da Essência, se dá através da conciliação das energias opostas na Árvore, essa conciliação se efetua no pilar central, ou pilar do meio/equilibrio, e é nesse equilibrio onde nasce o Filho em Tiphereth, ou seja, o diálogo com o Sagrado Anjo, o Self. Essa é a meta e o objetivo de todo praticante de magia ou de todos aqueles que se dedicam ao auto-conhecimento, pois é o proprio Anjo quem prepara o adepto para a próxima etapa, a travessia do abismo de Daath.
Daath é uma sephira oculta, invisivel, que se encontra entre Tiphereth e Kether. Daath representa o abismo que separa a nossa percepção dual da percepção una. Acima do abismo de Daath não há dualidade, abaixo do abismo tudo é dual.
Em Daath se encontra toda a hipertrofia de toda a ilusão do Universo e de todas as esferas abaixo dele que vão de Chesed a Malkuth. É Visudh Chakra, o Chakra do pescoço, que segundo os Hindus, é onde sao gerados os pensamentos. Para os Budistas aqui é onde habita Mara, o senhor da ilusão, ou Chorozon, o monturo de lixo do Universo de cuja travessia nasce o Magister Templi, segundo Crowley. Daath é considerada uma “esfera que nao é esfera”, pois sua funcao é o desviar da atenção da verdade inexprimível através do pensamento. É o deserto de Apep, o inimigo de Osíris que precisa ser derrotado por este último para sua ressurreição. Para os gregos era Hades, o deus do mundo ctônico, para os romanos era Plutão, o Senhor dos infernos. Aqui também estao os demônios da Goetia, os Qliphot, e os 50 nomes de Marduk.
É como se houvesse uma dobra na Criação que criasse a divisão da realidade na ilusão do espaço e do tempo através daquilo que foi gerado em Binah, portanto Daath paira sobre o abismo na fronteira entre os mundos da criação e da formação.
Abaixo do abismo é o plano da existência finita e condicionada. O abismo é uma regiao de tensão permanente entre o Macrocosmo e o Microcosmo, sendo a sede das forcas dissolventes que o profano conhece como demônios. Isso é referente na bíblia segundo o qual Cristo (o iniciado em Tipheret) deve primeiro “descer aos infernos” Qliphoticos antes de proceder aos céus das Supernas.
Segundo Crowley, no Abismo todas as coisas existem, realmente, pelo menos em posse, porém não possuem nenhum significado possível; pois elas carecem do substrato da realidade espiritual. Elas são aparências sem Lei. Elas são, pois Ilusões Insanas. Choronzon é o Habitante do Abismo; ele é lá a obstrução final. Se ele for enfrentado com a preparação própria, então ele estará lá para destruir o ego, o que permitirá ao adepto mover-se para além do Abismo. Se não estiver preparado, então o desafortunado viajante será completamente disperso em aniquilação. “O nome do Habitante do Abismo é Choronzon, porém ele não é realmente um indivíduo.”
Para Jung a sombra tem um componente pessoal, formado pelos aspectos da psique individual que são rejeitados e recalcados pelo ego, mas além disso, o núcleo da sombra é uma estrutura arquetípica que atrai esse material e o organiza segundo uma configuração transpessoal, porque Daath é a fronteira entre o eu pessoal, imerso no espaco tempo e o plano arquetípico da realidade. É a energia aprisionada na sombra que depois de assimilada e integrada pela consciência, permite que a consciência se libere do ego e vá em direção ao núcleo da estrutura arquetípica da sombra, que corresponde ao Demiurgo dos gnósticos ou Choronzon. Essa estrutura arquetípica da sombra equivale a sombra coletica, ou sombra da Anima Mundi. Chorozon equivale ao sistema de aprisionamento que rege a sociedade, cultura e o coletivo, e que é o núcleo arquetípico que organiza a formação da sombra bem como do ego. Ele é como os filtros que estão nos chacras limitando a percepção da realidade da vida, essa estrutura que também é condicionamento também é equivalente ao Carma individual e coletivo.
Quando da descida da substância que emana de Binah, para os mundos formativos através das sephiroth abaixo do abismo, estes perdem a conexão com a energia espiritual, como que se a cada revestimento de matéria, sua forma original fosse diminuida, isso se chama Kenosis, onde o arquétipo diminiu a sua potencia, até ficar adormecido na forma da kundalini no corpo humano. Esses mesmos sephiroth isolados se tornam como cascas vazias da essencia espiritual, se tornam como os arcontes do Mito de Sofia. O despertar na base do corpo e a consequente subida é como quebrar o estado de sistase ou amarras de cada chakra ou sephirah, recuperar a sua potencialidade original e assim a consciencia vai se desvencilhando da irrealidade do ego e do mundo como é percebido. Na travessia do abismo de Daath, é onde a consciencia transcende totalmente o ego e o nucleo arquetípico que gera e dá forma a sociedade e cultura como um todo, se unindo a sua Contra-parte Espiritual de acima do abismo, recuperando e preenchendo o Ser de sua plenitude/potência original. A consciência se une ao Self e recupera a substância espiritual, transformando os arcontes em Eons.
Daath tambem é “Conhecimento”, ou seja, a pura Gnose, e desta forma os demônios sao transformados em Deuses, recuperando a plenitude do Ser.
http://anoitan.wordpress.com/2009/07/13/a-travessia-do-abismo-de-daath/,