A Experiência de Stanford

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Stanford

O experimento de aprisionamento da Universidade de Stanford foi um marco no estudo psicológico das reações humanas ao cativeiro, em particular, nas circunstâncias reais da vida na prisão. Foi conduzido em 1971, por um time de pesquisadores liderados por Philip Zimbardo, da Universidade de Stanford. Voluntários faziam os papéis de guardas e prisioneiros, e viviam em uma prisão “simulada”. Contudo, o experimento rapidamente ficou fora de controle e foi abortado.

O experimento foi patrocinado pela Marinha Americana, para explicar os conflitos no sistema prisional da Corporação. Zimbardo e seu grupo procuravam testar a hipótese que guardas prisionais e seus cativos fossem auto-seletivos, com uma certa disposição que naturalmente levaria a péssimas condições em tal situação.

Os participantes foram recrutados através de um anúncio de jornal e receberiam US$ 15,00 por dia (US$ 76,00 em valores atualizados – 2006), para participar de um “experimento simulado de aprisionamento”. Dos 70 inscritos, Zimbardo e seu time selecionaram 24, que foram julgados como sendo mais estáveis psicológicamente e possuindo boa saúde.

Estes participantes eram, na sua maioria, brancos, de classe média, do sexo masculino. Foram formados dois grupos de igual número de “prisioneiros” e “guardas”. Uma vez que este experimento se tomou na época da guerra do Vietnan a maioria dos jovens desejava ser prisioneiros se opondo a guerra, originando assim a necessidade da seleção. É interessante notar que o grupo dos prisioneiros, após terminado o experimento, pensavam que os “guardas” haviam sido escolhidos devido sua forma física e tamanho, mas na realidade eles foram escolhidos jogando cara-ou-coroa e não havia diferença objetiva de estatura entre os dois grupos.

Os Guardas

Aos guardas eram entregues bastões de madeira e uniformes de estilo militar de cor bege, que foram escolhidos pelos próprios “guardas” em uma loja local. Eles também receberam óculos de sol espelhados para evitar o contato visual. Diferentemente dos prisioneiros, os guardas trabalhariam em turnos e poderiam voltar para suas casas nas horas livres, porém alguns preferiam voluntariar-se para fazer horas-extras sem pagamento.

Os Prisioneiros

Os prisioneiros deveriam vestir apenas roupões ao estilo do oriente-médio, sem roupa de baixo e chinelos de borracha, tais medidas fariam com que eles adotassem posturas corporais estranhas – segundo Zimbardo – visando aumentar o desconforto e a desorientação. Eles receberam números ao invés de nomes. Estes números eram costurados aos seus uniformes e os prisioneiros tinham de usar meias-calças apertadas feitas de nylon em suas cabeças para simular que seus cabelos estivessem rapados, similarmente aos cortes utilizados na recruta militar. Além disso, eles eram obrigados a utilizar correntes amarradas em seus tornozelos como um “lembrete permanente” de seu aprisionamento e subjugação.

O Experimento

No dia anterior ao aprisionamento, os guardas foram convocados a uma reunião de orientação, mas não receberam nenhuma instrução formal. Apenas a violência física não seria permitida. Lhes foi dito que seria sua responsabilidade o funcionamento da prisão e que para tanto eles poderiam recorrer a qualquer meio que julgassem necessário. Zimbardo fez o seguinte discurso aos guardas durante a reunião: “Vocês podem gerar nos prisioneiros sentimentos de tédio, de medo até certo ponto, transmitir-lhes uma noção de arbitrariedade e de que suas vidas são totalmente controladas por nós, pelo sistema, por vocês e por mim, e não terão privacidade alguma… Nós vamos privá-los de sua individualidade de diversas maneiras. De um modo geral, isso fará com que eles se sintam impotentes. Isto é, nesta situação nós vamos ter todo o poder e eles nenhum. – do vídeo “The Stanford Prison Study”.

O Caos

O experimento ficou rapidamente fora de controle. Os prisioneiros sofriam – e aceitavam – tratamentos humiliantes e sádicos por parte dos guardas e, como resultado, começaram a apresentar severos distúrbios emocionais. Após um primeiro dia relativamente sem incidentes, no segundo dia eclodiu uma rebelião. Guardas voluntariaram-se para fazer horas extras e trabalhar em conjunto para resolver o problema, atacando os prisioneiros com extintores de incêndio e sem a supervisão do grupo de pesquisa. Seguidamente, os guardas tentaram dividir os prisioneiros e gerar inimizade entre eles, criando um bloco de celas para “bons” e um bloco de celas para”ruins”.

A “contagem” dos prisioneiros, que havia sido inicialmente instituida para os ajudar a se acostumarem com seus números de identificação, transformaram-se em cenas de humilhação, que duravam horas. Os guardas maltratavam os prisioneiros e impunham-lhes castigos físicos, como por exemplo exercícios que obrigavam a esforços pesados. Muito rapidamente, a prisão tornou-se um local insalubre e sem condições de higiene e com um ambiente hostil e sinistro. O direito de utilizar o banheiro tornou-se um privilégio que poderia ser – e freqüêntemente era – negado. Alguns prisioneiros foram obrigados a limpar os banheiros sem qualquer proteção nas mãos. Os colchonetes foram removidos para o bloco de celas dos “bons” e os demais prisioneiros eram obrigados a dormir no concreto, sem roupa alguma. A comida era frequentemente negada, sendo usada como meio de punição. Alguns prisioneiros foram obrigados a despir-se e chegou a haver atos de humilhação sexual.

Zimbardo descreveu que ele mesmo estava se sentindo cada vez mais envolvido na experiência, que dirigiu e na qual foi igualmente participante ativo. No quarto dia, ele e os guardas, ao ouvirem um rumor sobre um plano de fuga, tentaram, alegando necessidade de maior “segurança”, transferir o experimento inteiro para um bloco prisional verdadeiro, pertencente ao departamento da polícia local e fora de uso. Felizmente a polícia local não acatou a idéia, e Zimbardo relatou ter-se sentido irritado e revoltado pelo que ele via como “falta de cooperação” das autoridades locais. À medida que o experimento prosseguia os guardas iam dando mostras de um crescente sadismo, especialmente à noite, quando eles pensavam que as câmeras estavam desligadas. Os investigadores afirmaram que aproximadamente um terço dos guardas apresentou tendências sádicas “genuínas”. Muitos dos guardas ficaram bastante desapontados quando a experiência foi terminada antes do previsto. Um dos pontos que Zimbardo ressaltou como prova de que os participantes haviam internalizado seus papéis é que, ao ser-lhes oferecida a “liberdade condicional” em troca do pagamento dos dias que faltavam para a experiência terminar, a maioria dos “prisioneiros” aceitou o acordo. Eles receberiam apenas pelos dias em que haviam participado. Porém, ao ser-lhes comunicado que a “liberdade condicional” havia sido rejeitada e que se eles fossem embora não receberiam nada, os prisioneiros permaneceram no experimento. Zimbardo alega que eles não tinham quaisquer razões para continuarem participando se estavam dispostos a prescindir do pagamento para abandonarem a prisão.

Um prisioneiro chegou a desenvolver rash cutâneo de origem psicossomática por todo o corpo, ao descobrir que não poderia deixar o experimento ou não receberia nenhum dinheiro. Zimbardo ignorou alegando que ele apenas estava “fingindo” estar doente para poder escapar. Choro incontrolável e pensamento desorganizado também foram sintomas comuns entre os prisioneiros. Dois deles sofreram tal trauma que tiveram de ser removidos e substituídos. O experimento que deveria durar 20 dias foi abortado em 6.

Voce pode conferir toda a documentação da experiência no site oficial http://www.prisonexp.org/.

O Experimento Dilma-Serra

Quem já é leitor antigo do Teoria da Conspiração sabe que às vezes fazemos alguns experimentos sociais interessantes usando os posts da coluna. O mais famoso até agora era o post “Cientistas vêem imagem de Jesus no LHC” que questionava a fé das pessoas e gerou mais de 800 comentários entre ateus e crentes.

Sempre que eu faço experiências assim, é esperado um certo número de posts com xingamentos e palavrões pesados… o que chamam de “trollagem”. O Duquian e o Eightbits me permitem conduzir estas experiencias e já estão cientes que eu vou bagunçar um pouco os comentários do site. Até ai OK.

Este mês decidimos testar a “fé” das pessoas na política, para demonstrar que não há diferença entre política e religião. Fizemos dois posters idênticos intitulados “amigos da Dilma” e “amigos do Serra”, um feito por petistas, outro por serristas. Por sorteio, o da Dilma foi o primeiro a ser postado e hoje ao invés de ler este texto, deveríamos ter postado o “Amigos do Serra”.

Porém, o volume de xingamentos, ameaças, ódio gratuito escalonado em uma maneira que nunca antes foi vista na blogosfera (e provavelmente nunca antes neste país também) foi tanto que estamos cancelando o experimento. Para vocês terem uma idéia, publicamos cerca de 260 comentários, mas tivemos de deletar 250 (duzentos e cinquenta) comentários de petistas e serristas IMPUBLICÁVEIS. Palavrões, xingamentos, ameaças até de morte e todo tipo de irracionalidade e incitação ao ódio ao adversário.

Ontem de tarde, o Duquian me mandou uma mensagem pedindo que abortasse o experimento. Nas palavras dele, “Estou ficando com NOJO dos comentários. O Sedentário sempre foi um site de entretenimento e diversão e esta guerra entre os leitores saiu totalmente de qualquer limite”. O Duquian é uma das pessoas mais democráticas e sensatas que eu já conheci (tanto que o S&H é o único lugar na net onde você vai encontrar uma coluna esotérica lado a lado democraticamente com uma coluna cética!) e, para chegar nesse ponto dele pedir para que eu parasse, é porque estas pessoas mostraram o que há de pior no ser humano. A política. Nem os evangélicos mais ferrenhos foram tão ofensivos e agressivos quando mexíamos com suas crenças… Por conta disso, os comentários neste e naquele post estão suspensos (coisa que NUNCA foi feita no Sedentário) e posts sobre política não serão mais feitos aqui. Comentários feitos em outros posts sobre isso serão simplesmente deletados.

E, por conta disso, decidi cancelar também a experiência que faria em janeiro sobre Futebol (para completar a trindade: religião, política e futebol). É um dia muito negro para a democracia e para os livres-pensadores quando as pessoas não têm mais capacidade para discutir assuntos básicos de filosofia sem serem ofendidas, ameaçadas ou constrangidas. Espero que pensem sobre isso e em que tipo de país estamos vivendo.

Peço desculpas públicas ao Duquian e ao Eightbits pela bagunça que causei e agradeço a oportunidade que tivemos para aprender bastante (os poucos que conseguiram aprender alguma coisa desta experiência, anyway).

Vejo vocês depois do feriado com mais Anjos Cabalísticos…