A Guerra dos Roses

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Movimentos harmoniosos, respiração controlada e um estado elevado de consciência. Esta é uma reportagem sobre ioga, mas não envolve nenhum desses elementos. Acusações, ressentimentos mal disfarçados, palavras como “seita” e “oportunismo” há de sobra. A rede de mais de 200 escolas ligadas a Luis Sergio de Rose, o Mestre De Rose, no Brasil, em Portugal e na Argentina está passando por dias turbulentos. Mais de 20 dos seus cerca de 500 professores a deixaram nos últimos três meses. Nem é um número expressivo, o que conta é o barulho que eles estão fazendo. Internamente, são tratados como “dissidentes” e recomenda-se “distância deles”.


Minha irmã freqüentou uma escola da rede durante mais ou menos um ano. Dei uma olhada nos livros que ela comprava, ouvia as descrições que ela fazia das aulas e, sinceramente, a coisa não me bateu. A matéria do NoMínimo só confirma essa primeira impressão. O que me incomodou mais era o evidente aspecto de culto à personalidade do tal Mestre de Rose, que lembrava muito a invasão de pseudo-gurus indianos que tomou de assalto os Estados Unidos a partir da década de 60, e dos quais a grande estrela era Rajneesh e sua nada espiritual coleção de Rolls-Royces – quando o fisco americano caiu de pau em cima dele, Rajneesh mudou o nome para Osho.

Mestre de Rose, aparentemente, não chega a tanto (embora os dissidentes insinuem práticas feias como espionar emails e celulares dos professores, para saber se eles mantêm contato com as personas non-gratas da escola), mas, para explicar porque os membros do grupo são proibidos de falar com os dissidentes, Rosana Ortega, diretora da unidade Berrini, adota um discurso que não deixa dúvidas sobre o caráter empresarial da Swasthi Yôga (ou como quer que seja o nome), que parece mais interessada em promover a marca e fidelizar o consumidor do que em levar os discípulos ao samadhi: “Na Coca-Cola, por exemplo, o funcionário é demitido se for flagrado bebendo Pepsi. O ator da Globo não pode dar entrevista ou negociar em outra emissora, porque ele representa a própria imagem da Globo. Os nossos instrutores também representam a nossa imagem.”

@MDD – Qualquer escola, fraternidade, ordem ou religião que fale uma imbecilidade dessas já merece total descrença. O verdadeiro buscador SEMPRE pode (e deve) procurar por todas as outras manifestações para que possa julgar e comparar os ensinamentos apresentados.

Quer dizer, suponho que quem estiver atrás da ioga apenas como uma forma alternativa de ginástica para aliviar o estresse pode até se beneficiar com as práticas ensinadas pelo Mestre de Rose – mas se você busca a ioga como um instrumento para o desenvolvimento espiritual e libertação da consciência, faria melhor em deixar Yôga – Mitos e Verdades de lado e partir logo para o real McCoy, os clássicos Yogasutras ou o inestimável Yoga – Imortalidade e Liberdade, de Mircea Eliade. Porque, pelo visto, a escola do Mestre de Rose está mais para Hare Krishna do que para Patanjali…

PS. Alguém poderá dizer que a prática não se aprende nos livros e que a única forma de aprender ioga é com um professor de carne e osso. Verdade. Mas qualquer cursinho introdutório de Hatha Yoga vai ensinar os asanas mais importantes. O resto é uma questão de concentração mental, que é mais fácil de obter no sacrossanto recesso de seu próprio quarto do que numa escola cheia de alunos, e de compreensão dos objetivos – e aqui, não existem professores melhores do que Patanjali e Mircea Eliade.

de: http://malprg.blogs.com/francoatirador/2004/08/a_guerra_dos_ro.html#more,