A Música

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Sabe-se que antes de o fazer pelo ar, o som se propaga pelo éter; este quinto elemento ou quintessência Hermética é a origem dos quatro restantes. Por sua extrema rarificação imaterial, superior à do fogo, com o qual às vezes se identifica, o éter é o veículo por excelência da luz inteligível e do som inaudível, cuja natureza vibratória faz serem todos os elementos uma só e mesma coisa, antes de se diversificar através dos sentidos até o mundo exterior. Por sua extrema plasticidade, pureza, e receptividade absolutas, a Tradição também assimilou simbolicamente este elemento à água, à substância universal. Por isso a concha marinha, cuja forma nos lembra ao yoni feminino e à orelha humana, é o representante unânime (como as conchas de água benta dos templos cristãos) do poder purificador, produtivo e “generativo” deste supra-elemento divino.

É de sobra conhecida a lenda que faz das conchas as conservadoras do som do mar. Esta propagação se realiza em forma ondulatória, da qual a espiral é símbolo por excelência. Diremos, ademais, que este símbolo está estreitamente vinculado ao logaritmo pentagramático do crescimento dos seres vivos, o que explica a estrutura espiral própria das conchas e caracóis, bem como a do ácido desoxirribonucléico que preside a corrente genética, e também outros muitos exemplos que omitiremos por enquanto.

A medicina pitagórica atribuía à música um poder terapêutico por excelência. Disso também nos dá referência a Alquimia, quando faz coincidir os centros musicais com os centros sutis, e estes com as oitavas do microcosmo humano. Assim vemos como a música, encarada desde uma perspectiva sagrada, é muito mais do que parece. E também que as naturezas do tempo e do espaço, da água e o fogo, unidas indissoluvelmente no éter, origem de sua vida, sendo fundamentalmente distintas, tocam-se num ponto onde, sem se confundirem, fundem-se numa Harmonia Única e Universal.

Sócrates, nas palavras de Platão, confirma as Musas como as primeiras protetoras da arte da música, de quem ela recebeu seu nome. Como já afirmamos, o tempo e o espaço se relacionam mutuamente através do movimento, e este não é senão a expressão dinâmica ou rítmica de uma harmonia cujos modelos são os números. Ritmo e proporção, semelhantes respectivamente ao tempo e ao espaço, são a métrica pela qual ambos ficam reciprocamente ordenados, conformando a presença viva daquela mesma harmonia que se dá por igual no céu e na terra. A própria geometria (geo = terra, metria = medida), que ordena idealmente o espaço, está virtualmente implícita na música como relação métrica de seus intervalos. Harmonia, número e movimento são, pois, termos equivalentes e mutáveis entre si, quanto se referem a uma mesma realidade, seja à arquitetura sutil e musical do Cosmo, ao ritmo respiratório, às pulsações do coração ou ao compasso alternado das fases diurna e noturna do dia.

O homem especialmente recebe com mais intensidade do que qualquer outro ser terrestre o ritmo pulsatório da existência, o que, num sentido, converte-o no mais capaz de reproduzi-lo. De natureza musical está feita a alma humana e sua inteligência, já que são elas as que captam as sutis relações entre as coisas; a maravilhosa articulação que a todas mantém unidas, com seus matizes, num todo indivisível que se vai revelando à medida que a unidade e a harmonia se impõem a nosso caos particular.

No homem, como num pequeno instrumento em mãos de um músico invisível, segundo se nos diz no hermetismo antigo e do Renascimento, encontram-se todas as potências, virtudes e ritmos do universo, homologadas ou em diapasão com a natureza de seu estado. No entanto, nem sempre se é consciente disso, já que seu diapasão particular não está, em geral, afinado com o tom universal.