Autoridades— 1984

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“Obediência não é o suficiente. A não ser que uma pessoa esteja sofrendo, como você pode ter certeza que ela está obedecendo à sua vontade e não à dela? O poder está em infringir dor e humilhação. O poder está em rasgar mentes humanas em pedaços e colocá-las juntas de volta em novas formas escolhidas por você mesmo. Você começa a enxergar agora o tipo de mundo que estamos criando? (…) Não haverá lealdade, a não ser lealdade ao partido. Não haverá amor, a não ser amor ao Grande Irmão. Não haverá riso, apenas o riso de triunfo sobre um inimigo derrotado. Não haverá arte, literatura ou ciência. Quando formos onipotentes, já não haverá mais necessidade de ciência. Não haverá distinção entre a beleza e a falta dela. Não haverá mais curiosidade, nem alegria no processo da vida. Todos os prazeres competitivos serão destruídos. Mas sempre — não se esqueça disso, Winston — sempre haverá a intoxiacação do poder, sempre aumentando e sempre crescendo sutilmente. Sempre, a cada momento, haverá o tremor da vitória, a sensação de pisar num inimigo que já está sem esperença. Se você quer uma imagem do futuro, imagine uma bota pisando num rosto humano — para sempre.

Este texto é um manifesto contra a autoridade despótica e um alerta para os perigos que podem vir a surgir de um governo totalitário. Ele amedronta os que acreditam nele, os que andam com ele, descrever essa quase irreversível sociedade os faz refletir sobre o privilégio que é o livre-arbítrio e a importância da sua constante manutenção. Pena que a cada dia essa liberdade se deteriora mais.

Não podemos sobrestimar o medo e deixarmo-nos dominar por ele, nem subestimá-lo e negligenciar a sua força. É-nos exigida uma clara noção do que é isso afinal do medo, bem como do nosso enquadramento na realidade para que o medo permaneça de certo modo sob o nosso domínio. O medo resulta sempre de um desfasamento real ou imaginado em relação à realidade. O medo chega até nós diretamente ou é trazido por alguém que o sente mais do que nós. Nós podemos não estar levando a sério os perigos que a realidade comporta. Mas o medo pode ser acentuado indevidamente por quem dele pensa beneficiar através do domínio exercido sobre os outros. Muitas pessoas colocam-se do lado do medo, outras são preparadas pela família e pela sociedade para viverem desse mesmo lado, outros viciam-se nessa vivência em que o medo se exerce sobre os outros e nunca sobre si próprias.,