O Dragão de Sitra Ahra

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Texto do frater Adriano Camargo Monteiro

Sitra Ahra, o “Outro Lado”, o “Lado Sinistro”, é o mundo primordial, o reino das trevas que precedem a luz da Criação, o reino de Shekinah, o mundo dos poderes femininos que criam, que gestam a vida na escuridão; é o útero de toda multiplicidade do universo manifestado, a fonte de toda a existência. Em Sitra Ahra, a “deusa” Shekinah (Sofia, Shakti, Vênus) se une à Luz de seu filho e esposo Lúcifer para criar e para expandir a vida múltipla em todos os planos de existência; Sitra Ahra é, portanto, o plano primevo que precede todos os outros planos do universo.

Em nível humano, Sitra Ahra é reino do subconsciente no qual a sabedoria secreta (Sofia, Shekinah) vem à consciência do indivíduo que atingiu a iluminação do Eu Superior (Lúcifer, Agathodaemon). Tal evento só é possível com a “entrada” do “Ungido” em Sitra Ahra para “resgatar” a Sabedoria lá oculta, quer dizer, quando Lúcifer resgata sua esposa Diana (Sofia, Shekinah). “Ungido” é todo aquele que desperta o Dragão-Serpente de Sabedoria, Kundalini, a força psicossexual e espiritual que sobe até a cabeça e ilumina com Sabedoria a consciência. A unção serpentina e draconiana então purifica o corpo de Adam Belial, ou seja, o ser humano encarnado se transforma fisica e fisiologicamente. Assim, o indivíduo comum se transforma no iniciado, em Ophis-Christos, em Nachash-Messiah, ou seja, a “Serpente Ungida”, o Grande Dragão. O iniciado então se converte no filho e amante de Sofia, o verdadeiro Filósofo, assim como Lúcifer o é.

Pelo que precede, Sitra Ahra é também o reino da Besta, filho e consorte de Sofia. É a Besta iniciadora, o Dragão mestre dos Mistérios das Trevas onde a Sabedoria jaz oculta. Em Sitra Ahra o conhecimento “proibido” e inacessível pode ser buscado e é onde a Árvore do Conhecimento cresce e dá frutos. Simbolicamente, tal árvore do Éden possui onze frutos, onze pomos pertencentes a cada um dos reis de Edom, os reis que governam cada uma das qliphoth de Sitra Ahra (o “Outro Lado”) sob o poder de Shekinah, ou Sofia, a Sabedoria da Serpente do Éden, ou o Dragão-Serpente Lúcifer-Vênus (Abzu-Tiamat, Samael-Lilith, etc). Nesse ponto, é facilmente notável a aproximação linguística entre Eden e Edom, entre os onze frutos da Árvore do Conhecimento e os onze reis de Sitra Ahra, o mundo da Magia Draconiana (cujo o número é 11).

Por ser um reino de trevas criadoras cuja força principal é negativa, feminina e metafisicamente sexual, Sitra Ahra é considerado pelo monoteísmo “da luz patriarcal” como o reino “esquerdo”, sinistro e infernal. Mas isso não signifca que seja um reino maléfico como entendido comumente; afinal, os monoteístas “da luz” parecem sempre amaldiçoar as Trevas necessárias, a multiplicidade e os aspectos femininos da existência. Mas a luz não é o bem absoluto e as trevas não são o mal absoluto; essa dicotomia absurda não existe na “vida prática” da natureza e do universo. A luz somente pode ser perceptível sobre o fundo negro das trevas essenciais das quais surge a própria luz como manifestação do universo vísivel e da vida multifacetada em tons gradativos de luz e escuridão e de muitas cores…

Adriano Camargo Monteiro é escritor de Filosofia Oculta, Draconismo e de simbologia e mitologia comparadas. É membro de diversas Ordens, possui diversos livros publicados pela Madras Editora e escreve também para a Revista Universo Maçônico, para o site Morte Súbita, para blogs pertinentes e é artista colaborador na Zupi, famosa revista trilíngue de arte e design.

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