Terreiros Injustiçados

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Segundo o IBGE, quase 20 milhões de brasileiros confessaram-se espíritas, umbandistas e candomblecistas. Estima-se que outros tantos milhões – que mesmo não freqüentando centros e terreiros e dizendo-se católicos – consideram-se espiritualistas. São brasileiros convictos da existência da comunicação com os espíritos. Crêem na reencarnação.

Por isso, pegou de surpresa a decisão da candidata á presidente do Brasil, Dilma Roussef, em mandar a Secretaria de Promoção da Igualdade Racial adiar o anúncio do Plano Nacional de Proteção à Liberdade Religiosa, para evitar novos atritos com evangélicos e a Igreja Católica em ano eleitoral

Esse plano prevê a legalização fundiária dos imóveis ocupados por terreiros de umbanda e candomblé e até o tombamento de casas de culto.

Ele seria lançado no último dia 20 de janeiro, às vésperas do Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, mas, na última hora, o governo recuou, “para evitar novos atritos com evangélicos e a Igreja Católica em ano eleitoral”

Segundo o jornal Estado de São Paulo, “desde o ano passado, Dilma tem feito esforços para se aproximar de católicos e evangélicos, sendo preciso evitar novos embates que possam criar ruídos de comunicação e prejudicar sua campanha”. Por isso, segundo ainda o jornal, desde o ano passado, a ministra tem feito todos os esforços para se aproximar tanto de católicos quanto de evangélicos e já percorreu várias igrejas.

Diante de uma plateia de praticantes de umbanda e candomblé, que se reuniram no último dia 20 no Ministério da Justiça, plateia esta composta de dirigentes de terreiros vindos de várias partes do Brasil, foi anunciado o adiamento da inclusão da preservação dos terreiros do Plano.

Surpreendente mesmo foi a declaração do coordenador do Plano, Alexandro Reis, responsável pelas Políticas para Comunidades Tradicionais. Segundo ele – no intuito de justificar a exclusão dos terreiros – “a preocupação do governo é que, por motivos eleitorais, o governo precisa pactuar com evangélicos e católicos, por causa das eleições deste ano”

Para o pastor Ronaldo Fonseca, presidente do Conselho Político da Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil, “o governo não deve gastar dinheiro com tombamento de terreiros”. Não se sabe ainda a opinião desse senhor sobre as centenárias igrejas católicas preservadas por todo o país, graças à política de tombamento que existe há décadas.

Qual é o significado desse tipo de atitude que espelha o medo de perder votos ao se negar a reconhecer a inquestionável importância dos cultos afrobrasileiros? A atitude da candidata a presidente Dilma Roussef exige nossa atenção para as eleições deste ano. Como se comportarão José Serra e Marina Silva em relação aos umbandistas e candomblecistas?

Que tipo de governo teremos nos próximos 4 anos? Um governo que ignora a existência de milhões de brasileiros adeptos dos cultos afros? Um governo que se alquebra, que fica de quatro diante de católicos e evangélicos?

Isso significa continuar entregando mais e mais concessões de rádio e TV às seitas eletrônicas que as utilizam para ofender e vilipendiar umbandistas e candomblecistas? É isso que nos espera? Temos o direito de saber o que nos aguarda no próximo governo: um tratamento igualitário e justo, ou um tratamento sectário, de isolamento dos umbandistas e candomblecistas.

Os seguidores dos cultos afros enfrentaram os senhores de engenho e a Igreja durante a colonização. Enfrentaram a Polícia na primeira metade do século passado. Nos últimos 30 anos, enfrentam os fanáticos das seitas evangélicas. E hoje, surpreendentemente, são vítimas de interesses eleitorais.

Vivemos numa democracia, contudo. O Poder Judiciário, na esfera federal, raramente se verga às pressões políticas. E como democratas, da mesma forma como defendemos um tratamento justo para os seguidores dos cultos afros, igual ao que é dado aos católicos e evangélicos, vamos invocar todos os recursos legais ao nosso alcance, para fazer valer a incontestável verdade de que o Brasil é uma democracia religiosa.

Qualquer um dos candidatos à presidente que se se dobrar perante às pressões religiosas, estará praticando discriminação. Deixará de ser justo.

E a injustiça que se faz a um, é uma ameaça que se faz a todos (Átila Nunes Filho e Átila Nunes Neto).