Uma breve historia da magia

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Artigo original do Blog Textos para Reflexão

O que diabos é magia?

No mundo atual, quando crianças aprendemos que magia é basicamente um poder sobrenatural que somente magos e seres fantásticos possuem. Há algumas décadas Tolkien nos trouxe o grande mago Gandalf, em seus livros épicos O Hobbit e a trilogia Senhor dos Anéis - de lá para cá nem sempre temos tido a sorte de encontrar persogangens tão interessantes na ficção. Hoje em dia os livros e filmes do estudante de magia Harry Potter dão a esperança de que toda crinaça pode aprender magia: se estudar no lugar certo e, principalmente, se não perder sua varinha mágica em algum lugar.

Há também quem confunda magia com truques de mágica, para esses gente como Houdini e, mais atualmente, David Blaine e Chris Angel, são os grandes magos de nossa época... Para muitos magia nada mais é do que o fruto do chamado pensamento mágico, que basicamente é um nome mais bonito para superstição - prática ritual de religiosos que perderam o compromisso com a realidade das leis naturais, e creem piamente no sobrenatural; ou de loucos que caminham na contra-mão da ciência, por exemplo: alquimistas que ainda tentam transformar chumbo em ouro (literalmente, é claro).

Com tanta ignorância espalhada aos sete ventos, não é de se admirar que o verdadeiro significado da magia tenha se perdido há muito dentre o chamado conhecimento popular. Na falta de um nome melhor, vou chamar a definição dada nos dois parágrafos acima de magia fantástica. Não quero no entanto induzi-los ao erro: decerto Tolkien sabia muito bem o que pertencia a mitologia e suas metáforas profundas, e o que era criação de sua mente, quando compôs Gandalf e outros seres fantásticos da terra média; assim como, mesmo no conhecimento popular sabe-se muito bem que os truques e ilusionismos de mágicos como Houdini e Blaine nada tem a ver com rituais de magia (ainda que não se saiba exatamente o que diabos é magia).

Pois bem, se quer saber o que é magia, se quer saber se já participou inadvertidamente de alguma espécie obscura de ritual mágico, eu lhe digo que não somente certamente participou, como certamente é um mago, ou magista, em maior ou menor grau, ainda que nunca tenha percebido... Todo ser dotado de mente pensante é um mago, e pratica magia, em maior ou menor grau. A magia não é privilégio de sociedades secretas, de ocultistas ou escritores de auto-ajuda: um ator de teatro que consegue levar a platéia as lágrimas atuando em um drama, é um mago mediano; um poeta que consegue passar inúmeras imagens e pensamentos através de símbolos escritos em versos, é um bom mago; até mesmo uma pastor evangélico que, através de sua interpretação fervorosa da leitura bíblica, consegue incitar grande fé em multidões de seguidores fascinados por sua oratória, é um grande mago!

No documentário "The mindscape of Alan Moore", o célebre escritor e magista inglês resumiu de forma contundente o que é magia (e não é necessário chama-la de outro nome senão o original): "Magia é a arte (a arte original), a ciência de se manipular símbolos, palavras ou imagens para se alcançar estados alterados de consciência". Aí está resumido todo o real significado de magia. Não se trata de rituais que pretendem criar efeitos sobrenaturais na natureza, mas da cuidadosa manipulação da simbologia compreendida pela cognição humana no intuito de incitar na consciência um estado alterado, onde se pode compreender a realidade de uma forma mais direta, talvez pude-se dizer: menos racional e mais espiritual ou sentimental. [1]

A maioria dos alquimistas nunca pretendeu um dia realmente transformar, literalmente, chumbo em ouro. Porém, mentalmente e metaforicamente, essa é a mesma transformação que um budista talvez procure em suas meditações transcendentais, ou um católico fervoroso procure em sua comunhão com Deus, ou mesmo um xamã ou pajé em sua relação direta com a natureza e seus espíritos - tranformar chumbo em ouro é transformar uma mente fechada em aberta, uma consciência restrita em abrangente, um conhecimento limitado em virtualmente infinito. Nesse e em muitos outros sentidos, a magia sempre foi o mecanismo pelo qual se realizou o religare, a religação a Deus, ou simplesmente a religião.

Entretanto, obviamente nem toda magia é boa, assim como nem todo pensamento ou estado de consciência é construtivo. Da mesma forma que pensamentos sombrios brotam nas mentes presas em sentimentos de culpa, ódio e vingança, a forma pela qual tais pensamentos são guiados através de manipulações da simbologia mágica é igualmente sombria, ou o que muitos conhecem popularmente como magia negra. Mas aqui, novamente, não é a cor que importa: é a intenção.

Magia é essencialmente vontade. Não há como realizar boa magia sem ter o controle e a compreensão da própria vontade. A vontade no entanto nem sempre é contrutiva ou visa a evolução espiritual dos seres. Por isso também se diz que o amor é a lei, o amor sob a vontade... Que isso seja levado sempre em conta a todo aspirante a magista.

Na continuação, falarei brevemente da história da prática de magia, dos xamãs da Sibéria aos umbandistas do Brasil...

[1] O termo "racional" se refere a razão destituída de qualquer espiritualidade, como é compreendida no meio acadêmico moderno. Acostumamos a interpretar esse termo como uma analogia a racionalidade e inteligência do ser humano, porém em sua origem, no logos grego, ele significava algo a mais (retirado da Wikipedia): "significava inicialmente a palavra escrita ou falada - o Verbo. Mas a partir de filósofos gregos como Heráclito passou a ter um significado mais amplo. Logos passa a ser um conceito filosófico traduzido como razão, tanto como a capacidade de racionalização individual ou como um princípio cósmico da Ordem e da Beleza". Essa interpretação do logos como "uma razão conectada ao Cosmos" atinge seu ápice na filosofia estóica. Nesse sentido de logos, a compreensão seria ao mesmo tempo racional e espiritual, e portanto adequada ao contexto utilizado em nosso pequeno estudo.

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Links Externos

  • [1] - Post original no Blog Textos para Reflexão