Falácias
Tipologia das falácias - com exemplos
Alguns dos nomes usados estão em latim.
Acentuação
É uma forma de falácia devido à mudança de significado pela entonação. O significado é mudado dependendo da ênfase das palavras.
Ex: compare: "Não devemos falar MAL dos nossos amigos." com: "Não devemos falar mal dos nossos AMIGOS".
Acidente
Quando considera-se essencial o que é apenas acidental.
Ex: "A maior parte dos políticos são corruptos. Então a política é corrupta."
Afirmação do consequente
Esta falácia ocorre quando se tentar construir um argumento condicional que não está nem do Modus ponens (afirmação do antecedente) nem no Modus Tollens (negação do consequente). A sua forma categórica é:
- Se A então B.
- B Então A.
Ex: "Se há carros então há poluição. Há poluição. Logo, há carros."
Anfibologia ou ambiguidade
Ocorre quando as premissas usadas no argumento são ambíguas devido à má elaboração sintática.
Ex: "Venceu o Brasil a Argentina." ou "Ele levou o pai ao médico em seu carro."
Apelo à autoridade anônima
Fazer afirmações recorrendo a autoridades sem citar a fonte.
Ex: "Os peritos dizem que a melhor maneira de prevenir uma guerra nuclear é estar preparado para ela."
Apelo à emoção
Recorrer à emoção para validar o argumento.
Ex: "Apelo ao júri para que contemple a condição do réu. Um homem sofrido que agora passa pelo transtorno de ser julgado em tribunal."
Apelo à novidade
Argumentar que o novo é sempre melhor.
Ex: "Na filosofia, Sócrates já está ultrapassado. É melhor Sartre, pois é mais recente."
Apelo à vaidade
Provocar a vaidade do oponente para vencê-lo.
Ex: "Não acredito que uma pessoa culta como você acredita nesta teoria."
Apelo ao preconceito
Associar valores morais a uma pessoa ou coisa para convencer o adversário.
Ex: "Uma pessoa religiosa como você não é capaz de argumentar racionalmente comigo."
Apelo ao ridículo
Ridicularizar um argumento como forma de derrubá-lo.
Ex: "Se a teoria da evolução fosse verdadeira, significaria que o seu tataravô seria um gorila!"
"Realmente acreditas em Adão e Eva? É apenas mais uma lenda de um conjunto de mitos antigos, sem fundamento, escritas por homens ignorantes e machistas."
Argumentum ad antiquitatem (argumento de antiguidade ou tradição)
Afirmar que algo é verdadeiro ou bom porque é antigo ou "sempre foi assim".
Ex: "Se o meu avô diz que Garrincha foi melhor que Pelé, deve ser verdade."
Argumentum ad baculum (apelo à força)
Utilização de algum tipo de privilégio, força, poder ou ameaça para impor a conclusão.
Ex: "Acredite no que eu digo; não se esqueça de quem é que paga o seu salário."
Argumentum ad consequentiam
Considerar uma premissa verdadeira ou falsa conforme sua consequência desejada.
Ex: "Se Deus existe, então temos direito à vida eterna. Cobiçamos a vida eterna. Então Deus existe."
"Se Deus não existe, não precisamos temer punições no pós-vida. Não cobiçamos penas no pós-vida. Então Deus não existe."
Argumentum ad crumenam
Esta falácia é a de acreditar que dinheiro é fator de estar correto. Aqueles mais ricos são os que provavelmente estão certos.
Ex: "O Barão é um homem vivido e conhece como as coisas funcionam. Se ele diz que é bom, há de ser."
Argumentum ad hominem (Ataque ao argumentador)
Em vez de o argumentador provar a falsidade do enunciado, ele ataca a pessoa que fez o enunciado.
Ex: "Se foi um burguês quem disse isso, certamente é engodo".
Argumentum ad ignorantiam
Tentar provar algo a partir da ignorância quanto à sua validade.
Ex: "Ninguém conseguiu provar que Deus não existe; logo, ele existe."
Argumentum ad lapidem
Desqualificar uma afirmação como absurda.
Ex: "João, ministro da educação, é acusado de corrupção e defende-se dizendo: 'Esta acusação é um disparate'".
Argumentum ad Lazarum
Oposto ao "ad Crumenam". Esta é a falácia de assumir que apenas porque alguém é mais pobre, então é mais virtuoso e verdadeiro.
Ex: "Joãozinho é pobre e deve ter sofrido muito na vida. Se ele diz que isso é uma cilada, eu acredito."
Argumentum ad metum
Apelar ao medo para validar o argumento.
Ex: "Vote no candidato tal, pois o candidato adversário vai trazer a ditadura de volta."
Argumentum ad misericordiam (argumento baseado na compaixão)
Consiste no recurso à piedade ou a sentimentos relacionados, tais como solidariedade e compaixão, para que a conclusão seja aceita, embora a piedade não esteja relacionada com o assunto ou com a conclusão do argumento.
Do argumento ad misericordiam deriva o argumentum ad infantium ("Faça isso pelas crianças".) A emoção é usada para persuadir as pessoas a apoiar (ou intimidá-las a rejeitar) um argumento com base na emoção, mais do que em evidências ou razões.
Argumentum ad nauseam
É a aplicação da repetição constante e a crença incorreta de que quanto mais se diz algo, mais correto está.
Ex: "Se Joãozinho diz tanto que sua ex-namorada é uma mentirosa, então ela é."
Argumentum ad populum (apelo ao povo)
É a tentativa de ganhar a causa por apelar a uma grande quantidade de pessoas.
Ex: "Inúmeras pessoas acreditam em Deus; portanto Deus existe."
Argumentum ad temperantiam
Recorrer ao meio-termo.
Ex: "Não temos relógio, mas alguns estão dizendo que são dez horas e outros dizem que são seis horas, então é mais acertado supor que são oito horas."
Argumentum ad verecundiam (apelo à autoridade) ou Magister dixit (Meu mestre disse)
Argumentação baseada no apelo a alguma autoridade reconhecida para comprovar a premissa.
Ex: "Se Aristóteles disse isto, então é verdade."
Argumentum verbosium (prova por verbosidade)
Tentativa de esmagar os envolvidos pelo discurso prolixo, apresentando um enorme volume de material: superficialmente o argumento parece plausível e bem pesquisado, mas é tão trabalhoso desembaraçar e verificar cada fato comprobatório, que pode acabar por ser aceite sem ser contestado.
Bola de neve
Elaborar uma sucessão de conclusões que conduzem ao absurdo.
Ex: "Se aprovarmos leis contra as armas automáticas, não demorará muito até aprovarmos leis contra todas as armas e então começaremos a restringir todos os nossos direitos. Acabaremos por viver num estado totalitário. Portanto não devemos banir as armas automáticas."
Bulverismo
Argumentar partindo do pressuposto de que o oponente já está comprovadamente errado.
Ex: "Você está dizendo que a Bíblia é correta? Nem vou discutir com você, parei. Sabemos que a ciência comprovadamente explica tudo corretamente."
"Se você não acredita que a Bíblia é infalível já perdeu o argumento, pois é óbvio que ela é."
Causa complexa
Supervalorizar uma causa quando há várias, ou um sistema de causas.
Ex: "O acidente não teria ocorrido se não fosse a má localização do arbusto."
Causa diminuta
Apontar uma causa irrelevante.
Ex: "Fumar causa a poluição do ar em Edmonton." (A causa maior é a poluição industrial e dos automóveis)
Círculo vicioso
Complexo do pombo enxadrista
Proclamar vitória, dando a entender que venceu a discussão, sem ter conseguido realmente apresentar bons argumentos.
Conclusão irrelevante
Obter uma conclusão que nem todos concordam.
Ex: "A lei deve estipular um sistema de cotas nas eleições para que as mulheres possam ocupar mais cargos políticos. Os cargos são dominados por homens e não fazer algo para mudar essa situação é inaceitável. Necessitamos de uma sociedade mais igualitária."
Cum hoc ergo propter hoc (falsa causa)
Afirma que apenas porque dois eventos ocorreram juntos eles estão relacionados.
Ex: "Nota-se uma maior frequência de erros de português em sala de aula desde o início das redes sociais e o uso do internetês. O advento das redes sociais vem degenerando o uso do português correto."
Definição circular
Definir um termo usando o próprio termo que está sendo definido.
Ex: "A Bíblia é a Palavra de Deus porque ela diz que é."
Definição contraditória
Definir algo com termos que se contradizem.
Ex: "Para serem livres, submetam-se a mim."
Definição muito ampla
Ex: "Uma maçã é um objeto vermelho e redondo."
Definição muito restrita
Ex: "A Terra é um pálido ponto azul no espaço."
Definição obscura
Definir algo em termos imprecisos ou incompreensíveis.
Ex: "Vida é a borboleta sublime que bate suas asas dentro de nós."
Deus das lacunas
Responder questões sem solução com explicações sobrenaturais e/ou que não podem ser comprovadas.
Dicto simpliciter (regra geral)
Ocorre quando uma regra geral é aplicada a um caso particular onde a regra não deveria ser aplicada.
Ex: "Se você matou alguém, deve ir para a cadeia." (não se aplica a certos casos)
Distorção de fatos
Mascarar os verdadeiros fatos.
Ex: "O segredo da minha força são os cabelos."
Egocentrismo ideológico
Realizar um argumento de forma parcial e tendenciosa.
Ex: "O comunismo é o ideal, pois Trotsky disse que..."
Ênfase
Acentuar uma palavra para sugerir o contrário.
Ex: "Hoje, o capitão estava sóbrio". (sugerindo embriaguês)
Equívoco
Usar uma afirmação com significado diferente do que seria apropriado ao contexto.
Ex: "Os assassinos de crianças são desumanos. Portanto, os humanos não matam crianças".
Estilo sem substância
Validar um argumento por sua beleza estética.
Ex: "Trudeau sabe dirigir as massas. Ele deve ter razão."
Evidência anedótica
Apresentar uma evidência sob a forma de anedota.
Explicação incompleta
Ex: "As pessoas tornam-se esquizofrênicas porque as diferentes partes dos seus cérebros funcionam separadas."
Explicação superficial
Usar classificações para tirar conclusões.
Ex: "A minha gata gosta de atum porque é uma gata."
Falácia biológica (involução)
Afirmar que a evolução biológica poderia "regredir."
Falácia da divisão (tomar a parte pelo todo)
Oposto da falácia de composição. Supõe que uma propriedade do todo é aplicada a cada parte.
Ex: "Você deve ser rico, pois estuda em um colégio de ricos."
Falácia da pressuposição
Consiste na inclusão de uma pressuposição que não foi previamente esclarecida como verdadeira, ou seja, na falta de uma premissa.
Ex: "Você já parou de bater na sua esposa?"
Falácia da probabilidade condicionada
Falácia de composição (tomar o todo pela parte)
É o fato de concluir que uma propriedade das partes deve ser aplicada ao todo.
Ex: "Todas as peças deste caminhão são leves; logo, o caminhão é leve."
Falácia de validação pessoal (efeito Forer)
Avaliar algo ou alguém com critérios genéricos, dando a entender que esta avaliação é individual.
Falácia do espantalho
Consiste em criar ideias reprováveis ou fracas, atribuindo-as à posição oposta.
Ex: "Deveríamos abolir todas as armas do mundo. Só assim haveria paz verdadeira." Ou ainda, "Meu adversário, por ser de um partido deesquerda, é a favor do comunismo radical, e quer retirar todas as suas posses, além de ocupar as suas casas com pessoas que você não conhece."
Falácia genética
Consiste em aprovar ou desaprovar algo baseando-se unicamente em sua origem.
Ex: "Você gosta de chocolate porque seu antepassado do século XVIII também gostava."
Falácia nomotética
Consiste na crença de que uma questão pode ser resolvida simplesmente dando-lhe um novo nome, quando na realidade, a questão permanece sem solução.
Falacia non causae ut causae
(falácia da falsa proclamação de vitória ou tratar como prova o que não é prova)
Consiste na declaração de vitória, servindo-se de respostas fracas ou incompletamente respondidas pelo adversário, quando efectivamente os argumentos próprios não provaram logicamente a posição.
Falácias tipo "A" baseado em "B"
(outro tipo de conclusão sofismática):
Ocorrem dois fatos. São colocados como similares por serem derivados ou similares a um terceiro fato.
Ex:
"O Islamismo é baseado na fé."
"O Cristianismo é baseado na fé."
"Logo o islamismo é similar ao cristianismo."
Falsa dicotomia (bifurcação)
Também conhecida como "falácia do branco e preto". Ocorre quando alguém apresenta uma situação com apenas duas alternativas, quando de fato outras alternativas existem ou podem existir.
Ex: "Se você não está a favor de mim então está contra mim."
Generalização apressada (falsa indução)
É o oposto do Dicto simpliciter. Ocorre quando uma regra específica é atribuída ao caso genérico.
Ex: "Minha namorada me traiu. Logo, as mulheres tendem à traição."
Ignoratio Elenchi (conclusão sofismática) ou falácia da conclusão irrelevante
Consiste em utilizar argumentos que podem ser válidos para chegar a uma conclusão que não tem relação alguma com os argumentos utilizados.
Ex: "Os astronautas do Projeto Apollo eram bem preparados, todos eram excelentes aviadores e tinham boa formação acadêmica e intelectual, além de apresentar boas condições físicas. Logo, foi um processo natural os EUA ganharem a corrida espacial contra a União Soviética pois o povo americano é superior ao povo russo."
Inconsistência
Construir um raciocínio com premissas contraditórias.
Ex: "John é maior do que Jake e Jake é maior do que Fred, enquanto Fred é maior do que John."
Invenção de fatos
Consiste em mentir ou formular informações imprecisas.
Ex: "A causa da gripe é o consumo de arroz."
Inversão de causa e efeito
Considerar um efeito como uma causa.
Ex: "A propagação da SIDA foi provocada pela educação sexual."
Inversão do acidente
Tomar uma exceção como regra.
Ex: "Se deixarmos os doentes terminais usarem heroína, devemos deixar todos usá-la."
Inversão do ônus da prova
Quando o argumentador transfere ao seu opositor a responsabilidade de comprovar o argumento contrário, eximindo-se de provar a base do seu argumento.
Ex: "Dragões existem, porque ninguém conseguiu provar que eles não existem."
Também pode ser utilizado para afirmações negativas, como segue: "Dragões não existem, porque ninguém conseguiu provar que eles existem."
Negação do antecedente
Esta falácia ocorre quando se tenta construir um argumento condicional que não está nem do Modus ponens (afirmação do antecedente) nem no Modus Tollens (negação do consequente). A sua forma categórica é:
Se A então B.
Não A
Então não B.
Ex: "Se há carros então há poluição. Não há carros. Logo, não há poluição."
Non sequitur (Não segue)
Tipo de falácia na qual a conclusão não se sustenta nas premissas. Há uma violação da coerência textual.
Ex: "Que nome complicado tem este futebolista. Deve jogar muita bola!"
Pergunta complexa
Insinuação por meio de pergunta.
Ex: "Apóias a liberdade e o direito de andar armado?"
Petitio principii
Demonstrar uma tese partindo do princípio de que já é válida.
Ex: "É fato que a Bíblia é infalível, portanto todos devem buscar nela a verdade."
Plurium Interrogationum
Ocorre quando se exige uma resposta simples a uma questão complexa.
Ex: "O que faremos com esse criminoso? Matar ou prender?"
Post hoc ergo propter hoc
Consiste em dizer que, pelo simples fato de um evento ter ocorrido logo após o outro, eles têm uma relação de causa e efeito. Porém,correlação não implica causalidade.
Ex: "O Japão rendeu-se logo após a utilização das bombas atômicas por parte dos EUA. Portanto, a paz foi alcançada devido à utilização das armas nucleares."
Red Herring
Falácia cometida quando material irrelevante é introduzido no assunto discutido para desviar a atenção e chegar a uma conclusão diferente.
Ex: "Será que o palhaço é o assassino? No ano passado um palhaço matou uma criança."
Reductio ad absurdum
Consiste em averiguar uma hipótese, chegando a um resultado absurdo, para depois tentar invalidar esta hipótese.
Reductio ad Hitlerum
Invalidar um argumento pela comparação com Hitler ou o nazismo.
Ex: "Hitler acreditava em Deus, então os crentes não devem ser boas pessoas."
Reificação
Ocorre quando um conceito abstrato é tratado como coisa concreta.
Ex: "A tristeza de Joãozinho é a culpada por tudo."
Teoria irrefutável
Informar um argumento que não pode ser testado.
Ex: "Ganhei na loteria porque estava escrito no livro do destino."
Terceira causa
Ignorar a existência de uma terceira causa não levada em conta nas premissas.
Ex: "Estamos vivendo uma fase de elevado desemprego, que é provocado por por um baixo consumo."
Tu quoque (você também)
Falácia do "mas você também". Ocorre quando uma ação se torna aceitável pois outra pessoa também a cometeu.
Ex:
"Você está sendo abusivo."
"E daí? Você também está."