Maniqueísmo
Filosofia religiosa sincrética e dualística ensinada pelo profeta persa Mani (ou Manes), combinando elementos do Zoroastrismo, Cristianismo e Gnosticismo, condenado pelo governo do Império Romano, filósofos neoplatonistas e cristãos ortodoxos.
Filosofia dualística que divide o mundo entre Bem, ou Deus, e Mal, ou o Diabo. A matéria é intrinsecamente má, e o espírito, intrinsecamente bom. Com a popularização do termo, maniqueísta passou a ser um adjetivo para toda doutrina fundada nos dois princípios opostos do Bem e do Mal.
A igreja cristã de Mani era estruturada a partir dos diversos graus do desenvolvimento interior. Ele mesmo a encabeçava como apóstolo de Jesus Cristo. Junto a ele eram mantidos doze instrutores ou filhos da misericórdia. Seis filhos iluminados pelo sol do conhecimento assistiam cada um deles. Esses “epíscopos” (bispos) eram auxiliados por seis presbíteros ou filhos da inteligência. O quarto círculo compreendia inúmeros eleitos chamados de filhos e filhas da verdade ou dos mistérios. Sua tarefa era pregar, cantar, escrever e traduzir. O quinto círculo era formado pelos auditores ou filhos e filhas da compreensão. Para esse último grupo, as exigências eram menores.
Quando o gnosticismo primitivo já perdia a sua influência no mundo greco-romano, surgiu na Babilónia e na Pérsia, no século III, uma nova vertente, o maniqueísmo.
O seu fundador foi o profeta persa Mani (ou Manés) e as suas ideias sincretizavam elementos do Zoroastrismo, do Hinduismo, do Budismo, do Judaísmo e do Cristianismo. Desse modo, Mani considerava Zoroastro, Buda e Jesus como "pais da Justiça", e pretendia, através de uma revelação divina, purificar e superar as mensagens individuais de cada um deles, anunciando uma verdade completa.
Conforme as suas ideias, a fusão dos dois elementos primordiais, o reino da luz e o reino das trevas, teria originado o mundo material, essencialmente mau. Para redimir os homens de sua existência imperfeita, os "pais da Justiça" haviam vindo à Terra, mas como a mensagem deles havia sido corrompida, Mani viera a fim de completar a missão deles, como o Paráclito prometido por Cristo, e trouxera segredos para a purificação da luz, apenas destinados aos eleitos que praticassem uma rigorosa vida ascética. Os impuros, no máximo podiam vir a ser catecúmenos e ouvintes, obrigados apenas à observância dos dez mandamentos.
As ideias maniqueístas espalharam-se desde as fronteiras com a China até ao Norte d'África. Mani acabou crucificado no final do século III, e os seus adeptos sofreram perseguições na Babilónia e no Império Romano, neste último nomeadamente sob o governo do Imperador Diocleciano e, posteriormente, os imperadores cristãos. Apesar da igreja ter condenado esta doutrina como herética em diversos sínodos desde o século IV, ela permaneceu viva até à Idade Média.
Mais tarde, no Sul da França, os maniqueístas e o druidismo formariam as bases do Catarismo.
Maqueismo e Gnosticismo
O dualismo maniqueísta diferencia-se do dualismo gnóstico uma vez que, se para este último, a divindade é superior ao demiurgo criador, para o primeiro tratam-se de dois princípios igualmente poderosos, sem que haja subordinação, apenas igualdade de origens.
Santo Agostinho, que a princípio fora influenciado pelas ideias maniqueistas, terminará por combatê-las, sustentando contra esse princípio de igualdade de origens o do caráter negativo do mal. Combateu ainda a concepção maniqueísta de que não havia nenhuma realidade extra-corporal. O "logos" era, para Mani, a encarnação do princípio da bondade, destinado a opor-se ao primeiro produto da criação do mal. As sucessivas criações de ambas as potências - bem e mal - não tinham outro fim que o de neutralizar-se mutuamente, até que o Bem e a Luz triunfassem sobre as trevas do mal.
Os mandamentos maniqueus
Eles deviam seguir sobretudo os dez mandamentos seguintes como fio condutor da sua vida cotidiana:
- Não adorar nenhum ídolo;
- Purificar o que sai da boca: não praguejar, não mentir, não levantar falso testemunho ou caluniar;
- Purificar o que entra pela boca: não comer carne, nem ingerir álcool;
- Venerar as mensagens divinas;
- Ser fiel ao seu cônjuge e manter a continência sexual, especialmente durante os jejuns;
- Auxiliar e consolar aqueles que sofrem;
- Evitar os falsos profetas;
- Não assustar, ferir, atormentar ou matar animais;
- Não roubar nem cometer fraude;
- Não praticar nenhuma magia ou feitiçaria;