Sefer Yetzirah
Foi conhecido na Europa em 1552, pela tradução em latim de Guilherme Postel e, em 1562, pelo texto hebraico da Edição de Mântua. Há uma tradução latina de Pistorius (1581). Muito apreciada é a tradução em latim, com o texto hebraico, de Rittangelius (1642).
O texto hebraico do Sepher Ietsirah, embora não seja o texto original, é o mais antigo texto especulativo escrito em hebraico que se conhece (Scholem, 1972, pág. 76). A pessoa habituada ao trato das ciências, e portanto ao rigor e à exatidão científica, estranha as imprecisões e inexatidões de qabalistas notáveis. A começar pelo título: Sepher Yetsirah, que é traduzido: "Livro da Criação" (Kalish, Papus, Scholem, Vuillaud), ou "normal"">Livro da Formação" (MacGregor Matthers, Stenring, Suares, Waite, Wynn Westcott).
Carlo Suares (1968, pág. 14) mostra que é erro espalhado chamá-lo de Livro da Criação, pois ele trata da Formação (ou da estruturação da energia) e não da Criação. Esta é tema da Gênese bíblica, enquanto a Formação é a continuação, descrita no Sepher Yetsirah.
O nome hebraico é grafado diversamente. Ietsirah (Vuillaud): Yezirah (Kalish); Yetsira (Suares); Yesira (Scholem); Yetzirah (MacGregor, Stenring, Wynn Westcott); Yetsirah (Regardie). A modificação da grafia é muitas vezes obra do editor. Assim, em Scholem, Les origines de Ia Kabbale, a grafia é Iesira (pág. 35). Na edição brasileira de As Grandes Correntes da Mística Judaica, do mesmo autor, a grafia é Ietzirá (pág. 70).
Esta é a menor das perplexidades em que se vê envolvido o principiante da Kabbalah, porque existem muitas outras e maiores, com as versões e interpretações, obscuridades, dúvidas, controvérsias de todo tipo e grau, encontradas nos livros qabalísticos.
Vuillaud (1923, I, pág. 195) diz a respeito do Sepher Ietsirah: tudo tem sido discutido a respeito deste livrinho: idade, lugar de origem, natureza da obra, embora a discussão a seu respeito seja geralmente técnica e com menos aspereza do que com o Zohar.
Origem
Sua origem oscila entre o século VI a.C. e o século X d.C. Uma tradição (Vuillaud, 1913, I, pág. 202) atribui a sua autoria a Joseph ben Uziel, no fim do século V a.C. O que se infere disto é que antes ou muito antes do século V a.C. o seu conteúdo já era conhecido da tradição judaica.
A lenda atribui a sua origem a Abraão, e a maioria dos exegetas dá como seu autor o rabi Akiba ben Joseph (60 d.C. a 130 d.C.), () mestre da exegese simbólica, que foi martirizado sob o imperador Adriano por ter desobedecido à proibição de continuar com o culto judaico.
Outra dificuldade se nos depara com as versões do Sepher Ietsirah. Os diversos manuscritos conhecidos, devido às interpolações variam em extensão, do simples ao duplo, além do desacordo que 5le estende à interpretação das palavras (Vuillaud, 1923, I pág. 200).
Daí ser tido pelos eruditos como livro misterioso e impenetrál (Suares, 1968, pág. 9). Quão abstrusa e controversa é a Kabbalah. Parece, entretanto, que todas essas dificuldades estimulam o estudante e aguçam a sua inteligência e a sua intuição!
Recomenda-se que não seja lido sozinho pelo estudante. Vaillaud (1923, I, pág. 201) diz que o rabi Juda, o Piedoso, conta no Sepher-ha-Gematria, que ben Sira quis estudar o Sepher Ietsirah, quando ouviu uma voz celeste lhe dizer que não poderia fazê-lo sozinho. Foi procurar, então, o seu pai Jeremias. No fim de três anos, criaram um homem! O Rabi Hanina estudou o Sepher com o Rabi Oschava..
Criaram magicamente uma bezerra de 3 anos, com a qual se a1imeataram (Vuillaud, 1923, I, pág. 203). São maravilhas como estas que têm exaltado a imaginação de pessoas que querem alcançar o poder por meio de artes mágicas, quando o fim primordial dos ensinamentos qabalísticos é buscar a Deus e progredir espiritualmente.
O maior texto do Sepher não excede 1.600 palavras. Há publicações com comentários que divergem muito entre si e sujeitos à critica. O texto de Saadia, Gaon de Fajum (192-242 D.C.), grande sábio, porém sem conhecimento científico, é obscuro. Mais respeitáveis foram os comentários de Jehuda Halevi e de Ebn Ezra, do século XII. Diz o Dr. Isidor Kalisch (1980, pág. 12) que outros comentaristas apresentam uma mistura de explicações arbitrárias e místicas e distorções sofísticas. O mesmo autor (pág. 12) diz que o normal"">Sepher Ietsirah: "curioso e enigmático, deu origem a um sistema metafísico delirante, chamado Qabalah." O próprio editor (pág. 15) procura desculpar o Dr. Kalisch, que foi o primeiro a traduzir o Sepher Ietsirah em inglês, em 1877. Ele cita o Dr. Joha Frederick von Meyer, tradutor do normal"">Sepher em alemão, em 1830, o qual observa dever-se fazer uma distinção entre a Kabbalah real e os exageros que surgiram em torno dela.
Livros recomendados ao iniciante
- Sepher Iezirah, versão do Dr. Isidor Kalisch, Rio. EN-US"">Editora Renes, 1971.
- The Book of Formation, de Knut Stenring, New York. Ktav Publishing House, Inc. 1970.
- La Cabbale, de Papus, Paris. Editions Dangles. 1971.
Quem quiser buscar uma interpretação original do Sepher lerá Carlo Suares: Le Sepher letsira, Geneve. Editions Montblanc. 1968.