Os Orixás e a Kabbalah – parte 3
Terceira e última parte da série que faz a comparação entre as correspondências arquetipais dos Orixás com a Árvore da Vida, demonstrando que todos os deuses de todas as culturas são representações da psique do próprio ser humano e, portanto, todos eles possuem as mesmas características intrínsecas, variando apenas o aspecto cultural e temporal no qual eles foram registrados.
Deixem nos comentários quais culturas vocês gostariam que eu fizesse a comparação em outros posts futuros desta série (Grega, Nórdica, Celta, Russa, Eslava, Japonesa, Chinesa, Asteca, Inca, Nativo-americana, Brasileira, Católica ou ateísmo). Para quem começou agora, recomendo a leitura dos dois posts anteriores primeiro:
Xangô
Talvez estejamos diante do Orixá mais cultuado e respeitado no Brasil. Isso porque foi ele o primeiro deus iorubano, por assim dizer, que pisou em terras brasileiras. É, portanto, o principal tronco dos candomblés do Brasil.
Xangô é o rei das pedreiras, Senhor dos coriscos e do trovão, Pai de justiça e o Orixá da política. Guerreiro, bravo e conquistador, Xangô também é conhecido como o Orixá mais vaidoso, entre os deuses masculinos africanos. É monarca por natureza e chamado pelo termo Oba, que significa rei. E é o Orixá que reina em Oyó, na Nigéria, antiga capital política daquele país.
No dia a dia encontramos Xangô nos fóruns, delegacias, ministérios políticos. Encontramos Xangô nas lideranças de sindicatos, associações, movimentos políticos, nos partidos políticos, nas campanhas políticas, enfim, em tudo que gera habilidade no trato das relações humanas ou nos governos, de um modo geral.
Xangô é a ideologia, a decisão, a vontade, a iniciativa. Xangô é a rigidez, a organização, o trabalho, a discussão pela melhora, o progresso cultural e social, a voz do povo, o levante, a vontade de vencer.
Xangô é a capacidade de organizar e pôr em prática os projetos de diferentes áreas, é a reunião de pessoas, para discutirem pontos e estratégias de trabalho. Xangô também é o sentido de realeza, a atitude imperial, monárquica. É o espírito nobre das pessoas, o chamado “sangue azul”, o poder de liderança.
Xangô traz as Rígidas leis de Binah, a Esfera da Restrição e das Leis. Não as leis dos homens, mas as leis imutáveis da física e da natureza, dos quais ninguém pode escapar.
Iansã
Deusa da espada de fogo, Dona das paixões, Iansã é a Rainha dos raios, dos ciclones, furacões, tufões, vendavais. Orixá do fogo, guerreira e poderosa. Mãe dos eguns, guia dos espíritos desencarnados, Senhora dos cemitérios. Não é muito difícil depararmo-nos com a força da Natureza denominada Iansã (ou Oyá). Convivemos com ela, diariamente. Iansã é o vento, a brisa que alivia o calor. Iansã é também o calor, a quentura, o abafamento. É o tremular dos panos, das árvores, dos cabelos.
É a lava vulcânica destruidora. Ela é o fogo, o incêndio, a devastação pelas chamas. Oyá é o raio, a beleza deste fenômeno natural. É o seu poder. É a eletricidade. Iansã está presente no ato simples de acendermos uma lâmpada ou uma vela. Ela é o choque elétrico, a energia que gera o funcionamento de rádios, televisões, máquinas e outros aparelhos. Iansã é a energia viva, pulsante, vibrante.
Sentimos Iansã nos ventos fortes, nos deslocamentos dos objetos sem vida. Orixá da provocação e do ciúme. Iansã também é a paixão. Paixão violenta, que corrói, que cria sentimentos de loucura, que cria desejo de possuir, o desejo sexual. É a volúpia, o clímax, o orgasmo do homem e da mulher. Ela é o desejo incontido, o sentimento mais forte que a razão. A frase “estou apaixonado” tem a presença e a regência de Iansã, que é o Orixá que faz nossos corações baterem com mais força e cria em nossas mentes os sentimentos mais profundos, abusados, ousados e desesperados. É o ciúmes doentio, a inveja suave, o fascínio enlouquecido. É a paixão, propriamente dita.
Iansã é a disputa pelo ser amado. É a falta de medo das conseqüências de um ato impensado, no campo amoroso. É até mesmo a vontade de trair, de amar livremente. Iansã rege o amor forte, violento. Oyá é também a senhora dos espíritos dos mortos, dos eguns, como se diz no Candomblé. É ela que servirá de guia, ao lado de Obaluaê, para aquele espírito que se desprendeu do corpo. É ela que indicará o caminho a ser percorrido por aquela alma. Iansã corresponde ao Caos primordial, à fúria dos elementos naturais da criação, representada na Esfera de Hochma.
Olorum
Olorum não é propriamente um orixá. Não tem filhos na Terra e, por isso, não se manifesta – isto é, não “baixa” – em ninguém.
Não participa do cerimonial do Candomblé, não exige oferendas nem comidas caprichadas ou vestimentas especiais. Na verdade, Olorum – que alguns chamam de Olodumaré – está acima dessas e de outras necessidades materiais.
Senhor de todas as coisas, ele é o princípio criador. Sem sua permissão, Odudua – orixá que ora se apresenta como homem, ora como mulher – não teria gerado o mundo, nem Oxalá poderia dar vida aos homens.
Olorum não é homem nem mulher, não tem características humanas, nem se envolve nos problemas do dia-a-dia. Sua única ligação com os homens acontece por intermédio dos orixás e do arco-íris – que, segundo a lenda, ele criou especialmente para esse fim, em apenas quatros dias.
Por suas características de Deus (ao contrário dos Orixás, que são considerados forças da natureza, Olorum é considerado o Deus Único dentro da Umbanda, o que a torna uma religião monoteísta), Olorum esta relacionado à Esfera de Kether, embora alguns o coloquem como sendo mais aproximado de Ain-Soph, ou o Deus imaterializado.
Ibeji
Ibejis são divindades gêmeas infantis, é um orixá duplo e tem seu próprio culto, obrigações e iniciação dentro do ritual. Divide-se em masculino e feminino,(gêmeos). Em Oyó cultua-se como erês ligado a qualidades de Sangô e Osun. Popularmente conhecido como xangô e oxun de ibeji.
Os orixás gêmeos protegem os que ao nascer perderam algum irmão (gêmeo), ou tiveram problemas de parto. Em algumas casas de candomblé e batuque são referidos como erês (crianças) que se manifestam após a chegada do orixá chamados de ase erês ou asêros.
Por serem gêmeos, estão ligados ao princípio da dualidade e de tudo que vai nascer, brotar e criar. Ibeji, assim como Tempo, não faz parte das Esferas, mas é a Primeira Manifestação do Ain-Soph, gerando os dois Pilares do Yin e Yang. Desta maneira, podemos colocá-los em Keter, como o primeiro aspecto de dualidade na manifestação de Olorum na criação.
Crentes e Ateus, em suas cabecinhas ocas, costumam pensar que os orixás ou deuses das culturas antigas e atuais são de verdade (uns crendo, outros descrendo), quando, em realidade, nada mais são do que o fruto da observação de aspectos psicológicos do próprio ser humano, descritos pelos olhos da cultura daquele tempo e espaço no Planeta Terra. Estudar e conhecer os deuses é conhecer o próprio ser humano e obrigação de qualquer pessoa que queira se dizer culta. Quando as pessoas entenderem que os únicos deuses que existem estão dentro de você mesmo e não em figuras entalhadas, e começarem a admirá-los pelo que eles são: MANIFESTAÇÕES ARTÍSTICAS, talvez começaremos a migrar para um mundo mais civilizado e belo.
Orixás
Omolu, Iemanjá, Exú, Oxum, Oxalá, Ogum, Oxóssi, Xangô, Iansã, Olorum, Ibeji